Aconteceu em 1864 – “um jornal nasce para todas as bolsas e de todas as inteligências”

O número um do Diário de Notícias chegou às bancas a 29 de dezembro de 1864. Uma moeda de 10 réis era o custo para se obter noticiário universal, “cuidado e compreensível”.

“Cada número dez réis” anunciava o cabeçalho. “Noticiário universal” lia-se por baixo do título do novo jornal – o Diário de Notícias, “publicado todas as manhãs”. Era o dia 29 de dezembro de 1864, data histórica para o jornalismo português com a primeira edição do DN a ser distribuída. São 155 anos a contar a história de Portugal, dos portugueses e do mundo.

A primeira edição reflete, naturalmente, as limitações da época. Toda a primeira página era preenchida apenas com texto e era sobretudo um tempo de apresentação aos leitores. “A publicação que hoje empreendemos, convencidos da sua necessidade e utilidade, visa um único fim: interessar a todas as classes, ser acessível a todas as bolsas e compreensível a todas as inteligências.” Foi assim que a direção do DN se dirigiu ao público. Prometia-se uma “compilação cuidadosa de todas as notícias do dia, de todos os países e de todas as especialidades, um noticiário universal”.

A primeira página deste número um trazia muitas notícias, todas resumidas em pequenos textos, sem títulos. Havia muitas novidades sobre atividade religiosa ou relativas a acontecimentos internacionais e locais. Por exemplo, podia ler-se: “Progridem as obras do Palácio de Cristal, do Porto. No dia 24 do corrente concluíram-se as arcarias: ao fechar do último arco, os operários colocaram-lhe em cima a bandeira nacional.”

Outra notícia referia-se às férias judiciais, com início na véspera de Natal e fim no dia seguinte ao Dia de Reis. “Começaram no dia 24 do corrente as férias de Natal nos tribunais judiciais e acabam no dia 7 de janeiro. Desse dia em diante daremos aos nossos leitores conta de todos os julgamentos correcionais e criminais interessantes, tendo para isso colaborador especial.”

Foi só o primeiro dia de uma grande aventura que já leva mais de século e meio. Se nesta primeira página de 1864 não havia imagem, cinco anos depois, em 1871, surgia pela mão do então jovem Rafael Bordalo Pinheiro (25 anos). O desenho mostrava o fundador do DN, Eduardo Coelho, pedalando uma bicicleta e o seu sócio Tomás Quintino Antunes equilibrando-se sobre um círculo. As rodas da bicicleta e o círculo da acrobacia eram moedas de 10 réis, a mais pequena moeda portuguesa daquele tempo, que era quanto bastava para comprar o jornal. Foi uma das chaves do sucesso – custar pouco para vender muito.

Ao longo dos anos, o DN foi sempre evoluindo e oferecendo ao leitor as novidades tecnológicas. Em 1895, com o Carnaval como inspiração, surgiram as Caraças do Dia, caricaturas de Bordalo Pinheiro em que o desenho já era orientado como sátira. O jornal sempre teve grandes colaboradores nesta área, como Celso Hermínio, Leal da Câmara ou Stuart Carvalhais.

Outra inovação chegou com a edição de 27 de junho de 1907: o retrato, a meio corpo, do oficial José Joaquim Caldeira Pires, que havia sido investido no comando de Infantaria 26. Foi a primeira fotografia publicada no DN.

Ao longo de décadas, muito mudou e o jornal sempre se adaptou aos tempos. Da edição em papel ao site na internet com o mundo como notícia, o Diário de Notícias segue aberto à descoberta.

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