“Não há dinheiro, por favor”: como você está evoluindo do físico para o digital

 

Depois de reclamar do valor do arroz e de que “tudo e mais alguma coisa é caro, você compra cinco coisinhas e custa quase cem reais”, dona Maria Zulene, de 78 anos, chega ao caixa do supermercado com duas certezas – que são costumeiras desde a pandemia da Covid-19 – toda vez que vai ao mercado mensal: é preciso desinfetar tudo quando chegar em casa, um costume que o aposentado não tinha antes; e, de fato, levará algum tempo para que o caixa consiga a reposição por R$ cem.

A série é simples: o atendente termina de passar os produtos, vira o aparelho e pergunta sem rodeios se é débito ou crédito. E completa: “Se está no Pix, está nesse QR Code. Dona Zulene saca sua carteira publicada com fotos devocionais e responde: Você está satisfeita com o dinheiro?

“Já tive que esperar parte de uma hora. Atrasei meu almoço enquanto esperava o troco ser dado. Falavam ao microfone, chamavam fulano, ciclone, aqueles outros que patinam. E nada, nada, nada, nada (canta, em tom bem-humorado, uma música que tem meme)”, diz.

A dona de casa é uma das milhões de brasileiras que ainda usam o dinheiro como principal meio de pagamento em uma fundação, percentual que diminuiu nos últimos anos com a popularização do Pix, mas que ainda burocratiza a base de transações em instituições monetárias. Brasil.

Criada no interior, Zulene aprendeu a ler apenas aos 18 anos, quando se mudou de Maranguape para Fortaleza, e nunca teve a oportunidade de continuar os estudos porque precisou se dedicar aos filhos e à casa – ela se identifica, até hoje, com talentos em engenharia mecânica.

Ela cresceu longe da geração e a coisa mais próxima de um celular, o aparelho que ela chama de “Pai de santo”, porque ele só recebe (ligações). Sem redes sociais, ela recebe informações exclusivas da televisão e da neta, a confeiteira Ana. Eliza, de 29 anos, que é cronicamente conectada, como diz sua geração.

“Meu negócio é necessariamente totalmente online. Muitas outras pessoas vêm ao Instagram, o pedido é feito no site, os consumidores me dão os principais pontos e conversamos no WhatsApp, as entregas e retiradas são feitas através de um motorista pessoal ou Uber e o máximo das passagens são digitais. E também uso muito (ingressos digitais), só uso cartões se não tiver internet”, explica a jovem.

Eliza conta que aceita toda a burocracia de pagamento, mas poucos consumidores preferem usar dinheiro físico e, quando o fazem, pede que enviem o valor reposto ou aceitem a substituição pelo Pix para facilitar a vida dos dois: “Antes, era mais complicado, eu tinha que pegar emprestado dela (vovó, Zulene) para conseguir a substituição, e aí ela dificultou para ela, porque ela também não tem Pix. Permitam-me, pois, que seja muito claro.

“Tenho uma amiga que foi ao médico fazer um check-up e só pagou à vista. Depois, houve um problema, pois eles não aceitavam débitos, créditos ou Pix, e o caixa eletrônico 24 horas estava muito longe para fazer saques. Resumo da Ópera: Desistiu de comparecer. Não vou nem comunicar sobre aqueles que evitam ser pagos no banco”, disse.

A realidade da pequena confeitaria não é tão diferente da de grandes corporações como a rede de cafés The Coffee, importada do Japão para capitais brasileiras como Fortaleza.

Lá, você faz seu pedido em um tablet, paga imediatamente e espera que alguém ligue para você. Para quem tem pressa, o pedido também pode ser feito pelo aplicativo, depois basta pegar e sair com sua bebida quente ou sem sangue em direção ao metrô como em uma cena de filme. Uma situação para dona Zulene.

Aliás, há uma peculiaridade que chama a atenção de quem passa um pouco mais devagar em frente ao balcão do café urbano minimalista: é a placa que pede “sem dinheiro, por favor”. Eles se contentam com o pagamento em dinheiro. Apesar de preferirem fazê-lo por cartão por razões de “agilidade, higiene e segurança”.

Siga um fevereiro no X (antigo Twitter) que viralizou:

 

 

Reagindo à postagem, um ex-gerente de uma franquia da rede de cafés afirma que “sim, eles aconselham a não se contentar com dinheiro e, se o visitante insistir, você terá que dizer a eles que é uma política corporativa e que, por causa disso, não há mudanças.

“É horrível porque evitamos que outras pessoas em condições vulneráveis comam nas lojas. Puro elitismo. Eu provavelmente não gostei dessa posição depois de correr lá. Quando outras pessoas davam a impressão de estarem em condições mais vulneráveis, eu as entregava, tirando-as como se fosse para mim. Normalmente, outras pessoas só precisam de um café expresso, sabe?

O ex-funcionário extra relata que “eles [The Coffee] teoricamente implementaram isso por causa da Covid (pandemia). Mas ficamos sem pandemia por um tempo e isso continuou porque era uma medida corporativa. “

Esse é um cenário que acompanha os ajustes no comportamento dos brasileiros em relação ao dinheiro em espécie e que não é incomum em instituições de cidades gigantes, o que também levanta questões como: é permitido rejeitar meios de pagamento?

Como sugere o post de Mário Adolfo, o brasileiro diz que não.

O pagamento em espécie é garantido por lei e a recusa em obter o pagamento em dinheiro na moeda do país pode resultar em multa para o estabelecimento ou fornecedor, de acordo com o artigo 43 da Lei Penal.

Além disso, o artigo 39, inciso IX, do Código de Defesa do Consumidor estabelece que “é vedada a recusa de venda de bens ou prestação de serviços, diretamente a quem se dispuser a obtê-los em troca de pagamento inicial, nos casos de intermediação regulados por leis especiais”.

O POVO tentou contato com a equipe de imprensa do Café por meio do e-mail indexado no site da empresa para saber se há uma posição oficial sobre a medida ou mesmo se um representante poderia dar uma entrevista e falar sobre o assunto. Até o fechamento desta matéria, nenhuma reação havia sido recebida.

 

 

Os primeiros nativos virtuais de hoje já são os tios do “pavê o pacumê” (que têm seu preço nos almoços de família) ou a piada de que “a conta de cem reais tem um peixe para nos lembrar que dinheiro é bom, nada”.

Em 2020, o lobo-guará optou por aparecer na nota de R$ 200, máxima recente desde 1994 – quando o Banco Central optou por dar visibilidade à fauna ameaçada do Plano Real. 30 anos após seu lançamento, a revolução do Pix e a evolução das estratégias de pagamentos virtuais pós-pandemia sugerem: o dinheiro também vai desaparecer?

O Pix, mais jovem e popular entre as estratégias de pagamento existentes no Brasil, apareceu poucos meses antes da nota de R$ 200, mas está se consolidando como favorito: em 2023, os brasileiros fizeram cerca de 42 bilhões de transações por meio desse sistema de pagamento instantâneo, que é um meio de pagamento instantâneo. Representa uma expansão de 75% em relação ao ano passado.

Sem limitação de dia ou horário, o número de transações com Pix superou o de cartões de crédito e débito, boletos bancários, transferências eletrônicas (EFILE), documentos de crédito (DOC), cheques e transferências especiais (TEC) no país. que, somadas, totalizaram cerca de 39,4 bilhões de transações.

O conhecimento é da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e tem como base pesquisas divulgadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen) e pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões e Serviços de Crédito (Abecs).

Criado em 1985 e descontinuado em 2024, o DOC foi o primeiro meio eletrônico de movimentação bancária brasileira e circulava em cinco moedas: do cruzeiro ao real. Graças a ele, tornou-se concebível movimentar dinheiro com o valor debitado da conta no mesmo dia da transação e creditado para o outro no dia útil seguinte: uma grande substituição na fórmula monetária na época, mas um procedimento que levou muito tempo para configurar a configuração existente.

No início deste ano, também foram encerradas as Operações Especiais de Transferência de Créditos (TEC), realizadas exclusivamente por meio de empresas para pagamento de funcionários.

Apenas a transferência eletrónica (EFILE) mantém-se em vigor, o que permite enviar um orçamento até às cinco da tarde. em dias úteis e a transação leva até parte de uma hora.

Para Joseph Vasconcelos, médico economista e professor da Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis (Facc) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no passado ligado à UFC, o fato de o dinheiro físico ser cada vez menos utilizado como meio de pagamento em transações entre agentes econômicos, basicamente por 3 motivos principais.

“A primeira delas se deve à expansão dos bancos virtuais e fintechs. Com custos operacionais muito menores, essas novas empresas conseguiram oferecer serviços bancários flexíveis ou baratos a milhões de brasileiros que no passado foram excluídos da cobertura bancária tradicional. “Ele explica.

Para o professor, o incentivo e a autorização dada por meio do Banco Central a esses bancos virtuais romperam com um esquema oligopolista do mercado bancário no Brasil, no qual no passado apenas alguns bancos clássicos forneciam quase todo o dinheiro e, portanto, limitavam o acesso à rede bancária. para as taxas do faturador.

Ele ressalta que hoje a inclusão bancária já atinge mais de 80% da população brasileira, indicador que há cinco anos chegava a 50% – e, com o que chama de “bancário”), chegou aos cartões de crédito, débito e pagamento instantâneo. sistema. .

Falando em Pix, Joseph acredita que “a expansão da política bancária alcançada por meio da progressão dos bancos virtuais permitiu que a proposta de movimentação instantânea fosse mais efetiva nos mais variados estratos sociais. acesso público a smartphones conectados à Internet, essenciais para acessar contas virtuais.

Como terceiro motivo, o professor destaca a criação de contas sociais para o Bolsa Família, FGTS, seguro-desemprego, entre outros: “A plataforma Caixa Tem foi criada por meio do governo por meio da Caixa Econômica Federal, um banco público, para conceder aos brasileiros acesso virtual. É possível obter e enviar dinheiro com Pix, poupar, pagar despesas e despesas, recarregar celulares, contratar seguro, pagar na maquininha, contratar empréstimos e sacar sem cartão. cartão.

“Nesse sentido, tem sido concebível atingir um componente gigante da população brasileira, especialmente aqueles que obtêm benefícios sociais do governo e que até então estavam fora do sistema bancário. “O avanço dos bancos virtuais levou o público a reduzir muito a demanda por dinheiro físico para transacionar”, explica.

“A praticidade trazida pela digitalização e a fluidez da fórmula financeira tornaram a portabilidade do papel-moeda obsoleta ou obsoleta em um mundo moderno e de ponta. Acho que entramos em uma nova era de meios de pagamento”, conclui.

 

 

Ao analisar a evolução dos meios de pagamento brasileiros, é possível identificar uma série de questões positivas e negativas no debate “moeda física versus moeda virtual”.

Ele se refere a Edemilson Paraná, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade LUT, na Finlândia, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e ao Centro de Estudos em Economia, Tecnologia e Sociedade (Nets) da Universidade Federal do Ceará (UFC). ).

Entre o que se destaca como favorável, o pesquisador cita que as transações são mais rápidas, seguras e baratas: “Esse procedimento de melhoria da infraestrutura de pagamentos virtuais, sejam públicos ou privados, é tudo o que beneficia o alívio dos preços de transação na economia e é um componente de um processo de evolução que vem ocorrendo há várias décadas.

“O setor de geração bancária do Brasil é um dos mais complexos do mundo, e o governo, por meio do Banco Central, tem atuado em parceria com os maiores bancos para estimular e avançar o progresso dessa geração. Seja um caixa eletrônico, antes caixa eletrônico, ou mais recentemente com sistemas como o Pix, o Brasil tem tido uma taxa de penetração relativamente alta, mesmo em comparação com países complexos”, diz.

Segundo Paraná, essa recente máxima da digitalização tem um conjunto de pré-requisitos: “parte de uma infraestrutura altamente tecnológica, um setor de geração bancária muito bem aproveitado, evoluído e estruturado, e a boa vontade de atores pessoais e agentes públicos para inspirar essa digitalização”.

Uma situação que, prossegue, confirma um processo de “popularização da computação privada, dos celulares, dos smartphones, da internet, dos aplicativos, do avanço do setor de geração bancária no Brasil; eles são os principais impulsionadores dessa digitalização”.

Apesar dos avanços tecnológicos, o pesquisador não acredita que o cenário leve à extinção da moeda física.

“Acho que poderia haver uma redução da base financeira do dinheiro físico emitido, mas ainda é importante em partes do país, para outros estratos socioeconômicos da população, em determinadas faixas etárias, grupos de fontes de renda, em determinadas áreas geográficas. Por uma questão de democratização e acesso às trocas financeiras, o dinheiro físico continuará existindo por muito tempo”, diz.

“Muitas outras pessoas recebem seus salários, seus benefícios estaduais e se aposentam imediatamente para pagar suas despesas básicas. O dinheiro físico é usado na economia local, nos pequenos negócios, e ainda há algo que é aceito como verdade em outras pessoas que “têm muito medo de usar tecnologias virtuais e smartphones. A economia informal usa muito dinheiro físico”, continua.

O Paraná reconhece que a digitalização total, obrigatória e absoluta do dinheiro no Brasil ainda é “muito duvidosa e problemática”.

“Sabemos que a infraestrutura de comunicação ainda não é das mais produtivas e que é incrivelmente distribuída de forma desigual: algumas pessoas têm um smartphone, mas não conseguem planejar; Quando isso acontece, a qualidade é ruim e o conhecimento se esgota. Nem todos os lugares têm Wi-Fi, o que proporciona boas condições de conexão”, observa.

O professor acredita que “enquanto o Brasil mantiver essas desigualdades que levam à escassez de moeda física, haverá uma situação complexa para as trocas financeiras. Essa é uma tendência em desenvolvimento, mas ainda estamos longe da extinção da moeda física. “

“O Pix é um sucesso maravilhoso, não há dúvida disso. A virtualização de cédulas é uma realidade no Brasil. É generalizado, e outras pessoas fazem uso extensivo desses mecanismos. E eles vão continuar fazendo, vai continuar assim. “Acho que as cédulas virtuais vão se tornar cada vez mais comuns, tanto na economia formal quanto na informal”, reconhece.

“Mas os padrões de admissão das famílias surgem de vários pontos, além da inegável digitalização das transações econômicas e econômicas. No perfil, na renda, na natureza dos desejos de admissão, na capacidade de gasto, nas escolhas individuais, em uma série de questões”, responde.

O professor identifica que a inclusão virtual na fórmula de pagamento facilita, dependendo de situações socioeconômicas e de poder, o acesso imediato a créditos ou microcréditos, o que pode levar a contextos como o endividamento, por exemplo, mas que “não podemos” dizer que é uma regra, porque há vários outros fatores, somando a escolarização monetária ou a falta dela”.

“O Brasil é muito complexo e desigual, então é difícil generalizar. Mas é mais um detalhe que permite liquidez imediata, uma tendência muito transparente de acelerar, de facilitar, seja em termos de gastos ou de gastos. É difícil esperar se “isso significará mais dívidas ou se outras pessoas buscarão estar mais atentas aos seus gastos”, diz ele.

Reagindo a este relatório, o Banco Central do Brasil garantiu, em nota, que “embora o surgimento de novas estratégias de pagamento como o Pix tenha tido um efeito sobre o comportamento de uso das estratégias de pagamento existentes, levará algum tempo para que a evolução desses efeitos obviamente precise ser mapeada e, portanto, seu efeito sobre a produção de caixa pode ser avaliado. “

“Em termos de fluxo de notas, apesar da evolução do uso de pagamentos virtuais, o fluxo de caixa tem sido historicamente maior ano a ano. Em 2020, em parte devido aos efeitos causados pela crise de aptidão, esse montante apresentou uma expansão atípica, muito superior à média anual observada nos últimos anos antes desse período”, confirma a autoridade federal ao O POVO.

O BC mostra que, atualmente, abaixo do preço alcançado em 2020, o fluxo de caixa ainda é superior ao preço que atingiria se tivesse mantido, desde 2019, o mesmo crescimento médio de antes. É o que mostra também o relatório “O dinheiro continua circulando acima dos níveis pré-pandemia”, publicado por O POVO em fevereiro.

“Embora em 2022 o fluxo de caixa tenha voltado a aumentar, passando de R$ 3,3 bilhões, oscilando entre R$ 339 bilhões e R$ 342,3 bilhões, ainda é cedo para avaliar seu comportamento de longo prazo”, ressaltou a entidade.

Procurada para comentar a situação de uma mudança no costume brasileiro em relação ao uso da prata física nos últimos anos, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) respondeu que, após uma checagem interna, descobriu que não tinha um porta-voz sobre o assunto. .

 

 

A digitalização se infiltrou em todos os aspectos da vida cotidiana, desde formatos de tintas e faturas até o acesso a serviços como saúde.

Para permanecer no contexto da pandemia, era obrigatório ter acesso à internet para planejar a vacinação, por exemplo, uma barreira virtual que quase se tornou física para outras pessoas como Zulene, que dependia da neta para planejar e monitorar a chegada. a vacina contra uma doença que deixou o idoso viúvo.

É o que afirma o economista Paulo Roberto Feldmann, professor da Faculdade de Economia, Administração, Ciências Contábeis e Atuariais (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

“O dinheiro é uma das partes da transformação virtual. Isso (transformação) acontece de forma transversal. E tem um lado positivo, o Brasil é um país que sabe usar a tecnologia, vamos ver que temos uma fonte de renda automatizada e eficiente como a nossa “A fórmula do imposto de renda aqui é uma das mais complexas do mundo, as eleições no Brasil são absolutamente automatizadas. Tudo isso é resultado da habilidade e competência dos brasileiros no uso da automação”, disse.

“Mas há outra faceta em que ninguém está, que é o desemprego tecnológico. É algo massivo, que aperta toda a economia brasileira e continua sem nenhuma reação”, continuou.

Feldmann destaca que “a digitalização de todas as atividades em todas as empresas é um problema sério, pois tende a gerar muito desemprego. E o Brasil já é um país com muitos desempregados, não consegue informatizar tudo. Um dos setores mais bem-sucedidos é a agricultura e não é um setor que contribui para gerar tantos empregos porque é completamente automatizado, é feito através de máquinas. “

O professor explica que “muitas grandes corporações estão passando da contratação de humanos para a contratação de robôs e estamos começando a comunicar um pouco mais sobre isso graças à inteligência sintética”.

Feldmann acrescenta: “Sou velho e infelizmente ainda estou trabalhando, então sou experiente em tecnologia, mas vejo que meus colegas, amigos e até meu círculo familiar têm enormes dificuldades para gerenciar aplicativos. Hoje em dia, tudo está em um aplicativo, você não vai mais à agência bancária, está tudo no celular. Mas, para as pessoas mais velhas, é complicado e até perigoso, porque acabam sendo vítimas, revelam a senha. “

“As pessoas na faixa dos 75 e 80 anos têm que lidar com a falta de sensibilidade dos bancos. Esse é um desafio que tende a se agravar com o passar dos anos, basicamente devido ao aumento da população idosa no Brasil. E o nosso ponto de escolaridade é um dos mais baixos, há um percentual muito alto de alunos da rede pública que têm porque a renda dos brasileiros é baixa”, reflete.

O relatório “Chasing cashless” prevê que, até 2025, pelo menos um dos países nórdicos estará absolutamente sem dinheiro em circulação, com uso limitado de bancos e moedas reservadas para segmentos que têm outras opções de pagamento eletrônico.

A Dinamarca, a Noruega, a Suécia, os Países Baixos e a Tanzânia estão na linha da frente deste debate e muitos desses países já declararam a extinção do dinheiro.

“O Pix é uma empresa brasileira, mas em outros países também existem táticas de pagar tudo pelo celular para evitar papel-moeda ou moedas. E acho que essa é uma tendência, porque os governos estão incentivando. É mais conveniente, é mais seguro, é mais controlável, é auditável”, diz.

Como aponta Feldmann, mesmo pessoas em situação de rua no Brasil hoje aceitam doações por meio de mecanismos eletrônicos, o que, segundo o economista, reflete uma tendência mundial de digitalização das transações monetárias.

“O Brasil é considerado um dos países mais complexos do mundo em termos de automação bancária, ainda ocupa a primeira posição em termos de moeda virtual. O Banco Central do Brasil tem fomentado a modernidade e a tecnologia. Portanto, é uma mudança irreversível. Na minha opinião, a moeda vai mesmo desaparecer. Não sabemos exatamente quando, mas não estamos longe”, disse.

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