Hipervigilância: não esqueça a máscara no Carnaval

Governo do Rio prepara reconhecimento facial generalizado durante as festas. No estado com maior número de mortos pela polícia, técnica — rechaçada por ferir privacidade e por viés racista — pode encher de inocentes as cadeias e delegacias

Por Paula Bianchi, no The Intercept Brasil

Carnaval passado a gente te avisou que era melhor sair de máscara – especialmente se você estivesse no Rio. E nesse carnaval não vai ser diferente.

O Black Mirror carioca está cada vez mais perto de sair do papel.

Consegui com o pessoal do Unearthed, a unidade de jornalismo investigativo do Greenpeace, a ata secreta da reunião entre Witzel e o ministro para o Comércio Exterior britânico, Conor Burns, em agosto. Na conversa, muitos afagos a suposta preocupação do governador de reduzir a violência no estado e um governo inglês ávido por “ajudar”.

Durante a reunião, que aconteceu em 19 de agosto, Burns disse a Witzel que “o Reino Unido está pronto para trabalhar em conjunto em uma variedade de assuntos, incluindo segurança (notável expertise em reconhecimento facial)”. Afirmação, segundo o relatório dos ingleses, recebida com animação pelo governador.

O sistema prometido por Witzel no carnaval segue em fase de testes no Rio com algumas poucas câmeras instaladas na capital desde julho, mas já deu tempo de o governo passar vergonha. Ainda em julho uma mulher foi presa em Copacabana, confundida com uma suposta foragida da justiça – detalhe: a pessoa que a polícia buscava já estava detida em um presídio do Rio desde 2015.

Além da ata da reunião – que teve trechos antecipados pelo site Brazil Wire –, tivemos acesso ao briefing que o ministro Burns recebeu sobre o governador fluminense. Algumas omissões chamam a atenção. Apesar de Witzel já ter sido denunciado à ONU pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio por sua “agenda genocida” – que inclui o maior número de mortos pela polícia desde que esse indicador passou a ser registrado no estado, exatos 1.810 em um ano –, o briefing prévio à visita feito pelos ingleses mereceu apenas um tópico de alerta sobre o governador, lembrando justamente a denúncia às Nações Unidas.

O ministro de Boris Johnson ainda elogiou, segundo a ata, a agenda de reformas em curso no estado por conta do Regime de Recuperação Fiscal dizendo que ela, pasmem, o recorda a política implantada por Margaret Thatcher. Não sei a Inglaterra, mas no Rio o fundo do poço segue próximo e o estado já acumula uma dívida de R$ 118 bilhões com a união.

Nada como um governador preocupado em atirar nas nossas cabecinhas e garantir que ninguém passe despercebido na multidão.

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