Alemanha busca respostas para possíveis falhas de segurança após ataque ao mercado de Natal

Por Miranda Murray e Kirsti Knolle

BERLIM (Reuters) – A Alemanha procurava, nesta segunda-feira, por possíveis falhas de segurança após um homem jogar seu carro contra um mercado de Natal, matando pelo menos cinco pessoas, reacendendo o debate sobre segurança e imigração no país, que se aproxima de uma eleição antecipada.

Os motivos do suspeito, um psiquiatra saudita de 50 anos conhecido como Taleb A, são desconhecidos. Ele tem um histórico de retórica anti-islâmica e simpatias pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).

No dia do ataque, Taleb A. publicou mensagens de vídeo na rede social X. Em comentários desconexos, ele culpava o suposto liberalismo alemão pela morte de Sócrates, filósofo grego antigo, e acusava a polícia de roubar um pen drive e destruir uma queixa-crime que ele havia registrado.

O jornal Welt informou que ele havia recebido tratamento psicológico.

Enquanto a nação demonstrava seu luto com cidadãos deixando flores e velas em Magdeburg, onde o ataque ocorreu na sexta-feira, surgiram questionamentos se as autoridades poderiam ter agido com base em alertas anteriores.

Cerca de mais 3. 500 pessoas participaram de um comício do partido anti-imigração AfD na Praça da Catedral de Magdeburg na tarde de segunda-feira, onde a co-líder Alice Weidel pediu mudanças “para que, afinal, possamos viver protegidos novamente”. Gritos de “deportá-los” surgiram da multidão.

De acordo com estimativas da polícia, cerca de 4. 000 contramanifestantes carregando velas formaram uma corrente humana para protestar contra o que chamaram de uso político de um incidente horrível e odioso.

A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, defendeu leis mais rígidas de segurança interna, incluindo uma nova legislação para fortalecer as forças policiais e a introdução de vigilância biométrica.

“Está claro que devemos fazer tudo para proteger o povo da Alemanha de atos de violência tão horríveis. Para isso, nossas autoridades de segurança precisam de todos os poderes necessários e de mais pessoal”, disse Faeser à revista Spiegel.

O vice-chefe de um comitê de segurança no Parlmento anunciou que convocaria uma sessão especial para questionar por que  avisos anteriores sobre o perigo representado por Taleb A. não foram seguidos. Taleb A. vive na Alemanha desde 2006.

O ataque ocorreu dois meses antes de uma eleição antecipada para fevereiro, na qual o AfD figura em segundo lugar nas pesquisas e particularmente forte no leste da Alemanha, onde Magdeburg está localizada.

“Todo mundo vive isso à sua maneira, alguns estão de luto, outros estão com raiva”, disse Andreas Bohs, que parou no local do ataque em Magdeburg, onde os enlutados deixaram flores, velas, ursinhos de pelúcia e outros objetos.

“Todos têm o direito de expressar sua opinião e isso não deve ser usado para fins políticos aqui. Mas sei que todo partido político faz isso de alguma forma.”

Um hospital local disse que ainda estava tratando 72 pessoas feridas, 15 delas estavam em estado grave.

A União Democrata Cristã, a principal oposição da Alemanha e que as sondagens mostram que determinará o próximo governo, apelou ao reforço dos serviços de inteligência.

Holger Muench, presidente do Departamento Federal de Polícia Criminal (BKA), disse à emissora pública ZDF neste fim de semana que a Alemanha estava revendo as medidas de segurança nos mercados de Natal e abordando vulnerabilidades imagináveis.

Muench disse que a Alemanha recebeu um aviso da Arábia Saudita ainda em 2023 sobre o suspeito. Autoridades alemãs chegaram a investigar, mas consideraram vago.

“O cara também postou muitas mensagens na internet. Ele também teve vários contatos com as autoridades, proferiu insultos e até ameaças. Mas não era conhecido por seus atos de violência”, disse Muench.

Taha al-Hajji, um advogado saudita exilado e diretor jurídico da Organização Saudita para os Direitos Humanos, com sede em Berlim, disse que os principais ativistas da oposição saudita tinham relações inteligentes com o suspeito.

“Ele sempre teve problemas com todo mundo… Ele estava realmente isolado”, disse al-Hajji.

“Ele achava que era o único certo e que as pessoas estavam erradas, achava que era o centro de tudo, que era importante. Ele sempre teve problemas com todo mundo.”

(Reportagem de Miranda Murray, Pesha Magid, Kirsti Knolle, Andrey Sychev, Sarah Marsh e Matthias Williams)

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *