São Paulo (Brasil)2020-01-19T19:10:00+0000
Nós, muçulmanos e judeus, que conhecemos os horrores da islamofobia e do antissemitismo, temos a sensibilidade aguçada para perceber que, entre todas as barbaridades proferidas por este candidato, a mais emblemática, por atingir vários segmentos, foi a de que as minorias devem se curvar à maioria. Essa frase ecoa fundo no coração daqueles que sofrem diariamente a brutalidade do preconceito e da não aceitação, contrariando a nossa Constituição, que nos garante o direito de vivermos em um Estado Laico. As minorias religiosas se sentem ameaçadas em seus direitos à prática de seus cultos, e até mesmo, nas suas existências.
O discurso de ódio fomentou a união de muitos subsetores existentes nas mesmas minorias, e nos une contra o inimigo comum. Manifestamos o nosso mais profundo repúdio a todas as formas de intolerância que possam comprometer o convívio salutar dos cidadãos com todas as suas diferenças, sejam religiosas, de gênero, de cor ou de ideologia política. Ressaltamos que nossa luta não se restringe apenas à figura pessoal do candidato, mas a tudo que ele representa e todos os que reproduzem o seu discurso.
Nossa bandeira comum, como muçulmanos e judeus é barrar toda forma de violência, de preconceito e qualquer outro elemento que dê base ao projeto fascista desse homem e de seus seguidores.
11. Os judeus participaram de um ato em São Bernardo do Campo, quando se anunciou a detenção de Lula:
Em abril de 2018, judeus estiveram presentes no ato inter-religioso realizado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em protesto contra a ordem de prisão do ex-presidente Lula.
Na ocasião, Nelson Nisenbaum afirmou: “A liberdade e a justiça são valores fundamentais para nós, judeus… Nós sofremos com o nazismo na Alemanha, e nós estamos sentindo o cheiro do fascismo aqui no Brasil. Onde houver fascismo, o judeu estará ferido. Não interessa contra quem. Se o negro está ferido, o judeu está ferido, se o muçulmano está ferido, o judeu está ferido”.
12. Às vésperas das eleições, um rabino visitou Lula na prisão, em Curitiba:
Impedido de se candidatar nas eleições presidenciais de 2018, o ex-presidente Lula recebeu a visita do barín Jayme Fucs Na prisão em Curitiba.
Integrando uma comitiva de cerca de 35 judeus e os judeus de vários estados do Brasil, o rabino, com sede em Israel, deixou o kibutz Nachshon, onde mora, especialmente para a visita.
“Entrei e me apresentei: ‘Meu nome é Jayme Fucs Bar’. Para quebrar a formalidade, rapidamente acrescentei: ‘Sou um rabino vermelho’ e o abracei fortemente. ‘Este abraço não é somente meu, mas de milhões de brasileiros que apoiam e rezam por você’”, contou o rabino.
13. Glenn Greenwald es judío:
Entre todos os opositores de Bolsonaro no Brasil, talvez o que mais tenha contribuído para abalar um dos alicerces do atual governo seja Glenn Greenwald.
Fundador do The Intercept, site que publicou as conversas vazadas entre procuradores e juízes da Lava Jato, Greenwald é judeu — e não esconde esse fato.
14. Os protestos contra Bolsonaro em Israel, fizeram com que o presidente voltasse para o Brasil:
Desde a primeira viagem que fez a Israel, em maio de 2016, Bolsonaro enfrentou protestos de judeus que moram no país. Na ocasião, foram preparados cartazes ironizando a visita ao Museu do Holocausto, dizendo: “Visita o Yad Vashem mas apoia a tortura”.
E assim foi também quando Bolsonaro, depois de eleito, voltou ao país. Um ato convocado pela ONG israelense Associação Pró-LGBT em frente à embaixada do Brasil em Tel Aviv foi programado para apenas horas depois da chegada do presidente, no dia 31 de março. Um dia antes da partida, em 2 de abril, novo protesto, dessa vez no Centro de Jerusalém, organizado por judeus brasileiros. Durante a estada de Bolsonaro em Israel, foram penduradas faixas com os dizeres “A Terra Santa não quer homofóbicos aqui” e “Bolsonaro stop Amazon destruction”, esta última pelo Greenpeace.
Segundo a revista Veja, o medo de novos protestos levou, inclusive, o presidente a antecipar o retorno ao Brasil, cancelando um encontro com brasileiros que vivem na cidade de Ranana.
15. A comunidade fundou o grupo “Judeus pela democracia”:
O repúdio a Bolsonaro aproximou judeus em grupos de Facebook reunindo milhares de pessoas, que deram origem a uma série de coletivos. Parte desses coletivos tinha objetivos pontuais e já foi desfeita. Outros, como o Judeus pela Democracia, perduram e têm liderado a oposição judaica ao atual governo. Vale acompanhar.
“Mas, o que acontece com os judeus que apoiaram?”
Muito judeus apoiaram e seguem apoiando Bolsonaro. Um, inclusive, integra o alto escalão do governo. Mas eles não são a comunidade judaica. A comunidade judaica é plural e só não vê quem não quer. Quer cobrar os que apoiaram? Provavelmente verá a adesão de todo esse pessoal listado acima.
Contudo, atribuir a vitória de Bolsonaro, que recebeu 57 milhões de votos, aos judeus brasileiros, que são 120 mil pessoas, é mais do que um erro: é a tentativa de encobrir os verdadeiros motivos e grupos responsáveis pela vitória do presidente.