Uma app e um travel planner são a grande novidade desta nova rota turística, que já envolve sete dezenas de parceiros em todo o concelho
Começar o dia a apanhar laranjas num pomar, depois comê-las ali mesmo, entre as árvores, ou beber o seu sumo acabadinho de espremer, sentado na esplanada ao sol. Visitar a Casa Museu João de Deus ou o Castelo de Silves, com a companhia do poeta e pedagogo messinense ou do rei-poeta Al-Mutamid. E ainda ficar com uma fotografia, ou até uma selfie, para demonstrar esses encontros improváveis.
Descobrir como funciona uma central de tratamento e embalamento de laranjas e outros citrinos, de onde, todos os dias, sai a fruta que nos chega fresca ao supermercado. Beber uma cerveja de laranja, ali diretamente no produtor, e acompanhar isso com um fregeneco (petisco) de pão de laranja, queijo curado de ovelha ou cabra e compota de laranja.
Coma uma cataplana de frango do campo com molho de laranja e termine o dia com um vermute cítrico e um licor de laranja defumado. Descanse de tudo isso em um percurso rural, com vista a um perfumado laranja.
Estas são apenas algumas das propostas da Rota da Laranja, que foi lançada oficialmente pela Câmara Municipal de Silves na passada sexta-feira, dia 7, com uma fam trip (visita de familiarização) voltada para jornalistas e operadores turísticos.
Foi um dia que começou bem cedo, no pomar da Quinta de Santo Estêvão, a apanhar laranjas e a comê-las sob diversas formas, e terminou na Casa de Chá do Castelo de Silves, a beber um vermute com infusão de laranja e ervas aromáticas, já o sol se tinha posto e a lua iluminava a noite.
Uma das grandes novidades desta Rota da Laranja, que já envolve cerca de 70 parceiros em todo o concelho de Silves, é a aplicação (app) que permite, com a ajuda de realidade aumentada e virtual, visitar os oito pontos chave com a ajuda de personagens, históricas ou populares (Al-Mutamid, João de Deus, D. Sebastião, o chefe da estação de comboios de tempos antigos), que parecem mesmo estar ali, em carne e osso, ou mesmo fazer visitas panorâmicas, de 360 graus, para ver, por exemplo, toda a extensão de um pomar de citrinos com vários hectares, como se se voasse por cima dele.
A aplicação, denominada Silves – RA Rota da Laranja , desenvolvida pela empresa LARM, é descarregada através de um QRCode, presente nas placas colocadas à porta de cada um dos parceiros da Rota da Laranja. A grande aposta é na realidade aumentada (RA), que consiste em colocar elementos virtuais em cima de elementos reais.
João Monsanto, um dos pais da app, revelou ao Sul Informação que a aplicação levou «oito a dez meses» a desenvolver e a afinar. «Antes do Verão já estávamos a tratar disso e, de facto, tem sido um trabalho muito grande. Muitos testes, para que fique uma aplicação com o nível que se pretendia».
Mesmo assim, e apesar de a app estar já pronta a ser utilizada, «há sempre coisas para melhorar. Ainda por cima há uma grande vontade do município de fazer mais coisas e apresentar mais coisas, porque há muito património neste concelho. O ideal seria a app conter tudo o que há para fazer. Em cada sítio, em cada local, ter uma experiência, uma explicação…uma aventura para as pessoas», acrescentou João Monsanto.
A ajudar, há ainda um site que oferece um travel planner (planeador de viagem), desenvolvido pela Visualforma para o projeto Autarquia360 e instalado no site da Câmara de Silves. Colocando as datas da estadia, o travel planner pode sugerir automaticamente rotas, indicando «onde comer, onde ficar, o que visitar, os eventos e outros pontos de interesse».
O planeador permite ainda que o visitante edite e adapte o roteiro às suas necessidades e gostos pessoais, podendo mesmo ser descarregado e guardado para utilização em qualquer local, sem acesso à internet.
Aplicação e travel planner estão, para já, disponíveis em duas línguas – português e inglês. Mas Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, que acompanhou toda a fam trip, admitiu que poderá depois haver versões em mais línguas, como francês, espanhol ou alemão.
Património histórico, adegas, restaurantes e gastronomia, lojas de comércio local e outros sítios onde comprar produtos, experiências de apanha de laranja, visita a pomares e a instalações de embalamento, alojamento são alguns dos pontos em destaque tanto na app como no travel planner.
Falando com os jornalistas, a autarca salientou que o concelho de Silves, mais conhecido pelas suas praias e pelo património monumental, «precisava de uma ferramenta, de um instrumento, para levar os turistas a visitar todo o concelho, de São Marcos da Serra a Armação de Pera. Fica todo o concelho sob o chapéu da Rota da Laranja». É que, sublinhou Rosa Palma, «é possível contar histórias de laranja, da serra ao mar».
A presidente da Câmara acrescentou que o projeto passou por «envolver as pessoas locais naquilo que é o demonstrar do que temos de melhor no nosso concelho». No total, já há sete dezenas de parceiros envolvidos, mas o número irá ainda aumentar.
Um dos objetivos desta nova rota é «juntar a experiência física, do sentir o cheiro da terra e da laranja, à realidade aumentada e virtual», explicou, por seu lado, João Monsanto, da empresa LARM.
A fam trip começou na Quinta de Santo Estêvão, onde João Garcia e a sua mãe foram os anfitriões de uma visita ao pomar, onde foi possível apanhar laranjas. Rosa Palma, de saco de apanha a tiracolo, deu o exemplo e mostrou que não é novata nestas coisas da agricultura, fosse na apanha dos citrinos, fosse depois, na plantação de uma laranjeira.
Depois de provar sumo das laranjas acabadas de colher e de comer bolos e tortas onde o fruto estava presente, no salão da bonita Quinta de Santo Estêvão que também acolhe festas, a visita seguiu depois para a Casa Museu João de Deus (onde o grupo foi recebido por Hélia Coelho) e para o Museu do Traje, ambos situados em São Bartolomeu de Messines. Foi aí que se testou, pela primeira vez, a aplicação descarregada com QRCode. E lá apareceu João de Deus, à janela daquela que foi a sua casa, a contar as suas histórias sobre o local.
O almoço teve lugar no restaurante Ribalta, no sítio da Ribeira Alta, ali para os lados de Algoz. Depois de um cocktail de boas vindas (gin com sumo de laranja), seguiu-se o almoço, com os citrinos em destaque, sobretudo no prato principal (cataplana de galinha do campo com molho de laranja) e na doçaria.
De seguida, ainda na zona de Algoz, o grupo pôde experimentar, em pleno campo, outra das potencialidades da aplicação, visualizando, em 360º e de um ponto de vista aéreo, toda a beleza de um extenso pomar de citrinos.
Rumando à estação de Tunes, por uma estrada estreita entre laranjais, o grupo chegou ainda a tempo de, de telemóvel ou tablet na mão, assistir à partida (virtual) de um comboio antigo, tendo como anfitrião um ancestral chefe de estação…também virtual.
Ali perto fica a Quinta dos Avós, onde, ainda mal refeitos do lauto almoço, os participantes desta visita foram lanchar. Primeiro brindou-se com a cerveja Marafada de laranja, uma wietbier produzida por André Gonçalves na sua cervejeira artesanal. Depois, comeu-se os bolos feitos pela mãe, a D. Encarnação, sempre com a laranja como ingrediente principal: pão de laranja e folar de laranja, com compota…de laranja, licor…de laranja e chá…de flor de laranjeira. E ficou-se a saber, da boca do Senhor Gonçalves, que o pequeno, mas muito completo, museu etnográfico da Quinta dos Avós, que está a ser alvo de reorganização, vai reabrir em Março.
Houve ainda tempo para ir visitar as Frutas Tereso, uma empresa familiar que trata da seleção e embalamento de laranjas e outros citrinos, em sacos e caixas, e os envia para todo o país e mesmo para o estrangeiro. Guiados por Diana Tereso Ferreira, foi a oportunidade de aprender mais sobre o processo de tratamento dos frutos, com recurso a tecnologia de ponta, mas também a mão de obra. Uma fase do processo que, para a maioria das pessoas, passa ao lado e tem o seu quê de fascinante. Mais um ponto de visita a acrescentar à Rota da Laranja.
Com o sol já quase a pôr-se, faltava apenas rumar ao Castelo de Silves. Onde, pelo meio das ruínas arqueológicas do Palácio das Varandas ou nos torreões de grês vermelho, foi possível encontrar o rei-poeta Al-Mutamid, que falou do seu tempo e das suas histórias. Houve mesmo quem, como a presidente da Câmara Rosa Palma, aproveitasse para tirar uma fotografia acompanhado por essa e outras personagens históricas virtuais. Podia até ter sido uma selfie… Mais uma funcionalidade, bem divertida, da nova app.
Aí, na Casa de Chá que existe no seu interior, o grupo foi recebido por José Sales e Miguel Vieira. Além de mais doces com laranja, primeiro bebeu-se um ice tea caseiro (obviamente com citrinos), muito fresco e agradável, depois um vermute com infusão de laranja e ervas aromáticas, produzido ali, assim como um licor de laranja que, além de não ser muito doce, tinha a particularidade de ser servido depois de fumado com ervas, como alfazema.
Uma forma bem agradável de terminar um dia inteiramente à descoberta desta novíssima Rota da Laranja que, como ficou bem patente, tem muito para oferecer aos visitantes. Turistas nacionais, estrangeiros e até regionais poderão passar um ou vários dias com muito para fazer e descobrir, de forma bem original e com a ajuda das tecnologias atuais, da serra ao mar, no concelho de Silves.
E porque este município é o principal produtor de citrinos do país (40% da produção) e do Algarve (60%), de 14 a 16 de Fevereiro, vai decorrer o Fim de Semana com Sabor a Laranja, que coincidirá com a realização de mais uma edição da Mostra Silves Capital da Laranja, naquela cidade.
Fotos: Elisabete Rodrigues sul Informação
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Até o dia 15 de junho, a participação é gratuita
As fotos podem ser entregues até o dia 27 de março
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