“Era uma programação totalmente de esquerda, ideologia de gênero, dinheiro público para ideologia de gênero. Então, tem que mudar. Reflexo, daqui a cinco, 10, 15 anos vai ter reflexo. Os caras estão há 30 anos [no ministério], tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da esquerda”, concluiu Bolsonaro, segundo noticiou o G1.
A TV Escola foi criada em 1995, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, na gestão do então ministro da Educação Paulo Renato Souza. A iniciativa era voltada para conteúdos educacionais direcionados a professores e estudantes.
A decisão de não renovar o contrato vem na esteira da polêmica estreia na TV Escola de programas do canal do YouTube “Brasil Paralelo”, que tem como bandeira o revisionismo histórico e segue as ideias de Olavo de Carvalho.
Que papel desempenha uma emissora pública?
Ao apontar a audiência como justificativa para encerrar uma emissora pública, Bolsonaro demonstra desconhecer o papel desse tipo de veículo de comunicação. Isso porque, diferentemente de uma emissora comercial – como Band, SBT, Globo e Record -, a meta de uma emissora pública não é registrar altos índices de audiência para arrecadar verba com anúncios, mas sim apresentar uma cobertura voltada para a sociedade.
Um exemplo disso pôde ser observado nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a Rede Globo, uma emissora comercial, montou um estúdio dentro da cidade olímpica para cobrir o evento. Após o encerramento, quando tiveram início os Jogos Paralímpicos – cuja audiência é mais baixa – a estrutura foi abandonada. Ficou ao encargo da TV Brasil, uma emissora pública, transmitir o evento, já que, apesar da baixa audiência, trata-se de um tema relevante para a sociedade, especialmente para pessoas com deficiência.
O Brasil não é o único país a ter emissoras públicas. Em entrevista dada ao Opinião e Notícia em agosto de 2016, Eugênio Bucci, jornalista e professor de Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), apontou que emissoras públicas fazem parte da democracia, como forma de dar voz a diferentes culturas que o mercado não conseguiria sustentar.
“Até os EUA, que todos imaginam o paraíso das emissoras privadas, têm sistemas sólidos e tradicionais de emissoras públicas, como a PBS. A França tem a France Télévisions; o Reino Unido tem a BBC; a Alemanha a Deutsche Welle. As democracias que têm mais tradição têm sistemas públicos não comerciais de rádio e televisão. Porque a forma comercial de veiculação de notícias e bens culturais não preenche todos os campos da vida social de uma democracia. É pela mesma razão que é preciso existir fundação para sustentar uma orquestra sinfônica. Se fosse depender da venda de discos e de shows, não existiria nenhuma orquestra sinfônica no mundo. O mercado não sustenta todas as formas de expressão cultural”, disse Eugênio Bucci.
Esta não foi a primeira vez que Bolsonaro usou a audiência como parâmetro para atacar uma emissora pública. No ano passado, durante sua campanha presidencial, ele mirou diversas vezes a EBC, reafirmando seus planos de extinguir ou privatizar a empresa, sob o argumento de que ela “tem um traço de audiência”.
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