*Por Victória Ribeiro, da Agência Einstein
A obesidade é uma doença crônica que afeta mais de um bilhão de pessoas, de acordo com uma pesquisa global publicada em fevereiro na revista The Lancet. Mas a ideia de que esta doença está simplesmente relacionada a comer demais e se exercitar muito pouco não faz sentido.
Esse pensamento simplista (fornecendo setores da sociedade, agregando aptidão física) tem sido conhecido por especialistas como negativo para a compreensão da complexidade metabólica da doença.
Além disso, influencia negativamente as decisões das autoridades de fitness, dificulta a busca de ajuda médica e perpetua o estigma e o preconceito.
No Brasil, a obesidade atinge um em cada quatro adultos, segundo o Ministério da Saúde. Com o atual ritmo de expansão, estima-se que quase uma parte (48%) da população brasileira será diagnosticada com a doença até 2044, segundo pesquisa do Ministério da Saúde. Fiocruz Brasília apresentada em junho.
Apesar desses números alarmantes, o exame aprofundado da obesidade é recente: começou há menos de dez anos. No entanto, mesmo diante das crescentes evidências de que se trata de uma doença multifatorial, prevalece a visão de que é uma doença simples de tratar ou ainda prevalece.
É por isso que os profissionais de fitness têm defendido um novo símbolo da obesidade. O termo, emprestado do marketing, pensa em uma nova “cara” para um logotipo, transformando elementos visuais e de posicionamento, por exemplo.
“Falar sobre a mudança de imagem da obesidade é, afinal, falar sobre pessoas. Muitos veem a doença como uma inegável falta de força de vontade, comer demais e falta de exercícios. Isso não é apenas errado, mas também é errado. um discurso que vem sendo superado”, disse o nutricionista Guilherme Giorelli, professor de pós-graduação em nutrição do Hospital Israelita Albert Einstein, em apresentação no IX Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança em Saúde, realizado em São Paulo, de 9 a 11 de julho.
Para Giorelli, o fato dessas discussões serem recentes contribui, de alguma forma, para a falta de uma identidade transparente e explicada para a obesidade, ainda hoje.
Isso significa que existem critérios para ser considerada uma doença, como fisiopatologia e mecanismos etiológicos bem definidos, na maioria das vezes ela só é identificada como “fator de risco” devido à sua opção de desencadear outros tipos de doenças. . Matriz como hipertensão e diabetes.
A contradição é que o mesmo não acontece com outros problemas de condicionamento físico, como diabetes e depressão, que são explicados como “doenças” de acordo com os mesmos critérios estabelecidos.
De acordo com uma pesquisa de 2019 do National Institutes of Health (NIH) nos Estados Unidos, 32% das pessoas não consideram a obesidade uma doença crônica. Entre os profissionais de fitness, esse percentual é de 12%.
Em entrevista à Agência Einstein, Giorelli ressalta que essa falta de uma identidade bem definida, além de destacar a necessidade de estratégias de comunicação eficazes, está ajudando a que as complexidades biológicas da doença sejam ignoradas sem problemas e a perpetuar equívocos.
Para o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), é importante perceber que as causas da obesidade são diversas.
Embora o excesso de calorias aumente a ameaça de obesidade na população, estima-se que 70% da doença tenha uma carga genética, o que torna inúteis para alguns diagnosticados métodos baseados apenas em “comer menos, movimentar-se mais” (vital para todos). com o estado.
Isso significa que, assim como a doença se manifesta de outras formas, o remédio também deve levar em consideração as individualidades de cada indivíduo. Isso pode incluir, além de nutrição inteligente e exercícios, intervenções como medicamentos e até cirurgia.
Outro ponto é que muitos mecanismos relacionados à obesidade ocorrem no cérebro, o que influencia o consumo alimentar. Por exemplo: o hipotálamo, região do cérebro que controla a fome, a sede, a temperatura corporal e a respiração, regula o peso corporal até atingir o peso máximo alcançado.
Além disso, fatores externos como medicamentos, desreguladores endócrinos, poluição do ar e falta de sono também podem contribuir para o desequilíbrio energético que leva à obesidade.
Da culpa à ausência de políticas públicas
Um dos grandes perigos da visão simplista de que a obesidade é simplesmente o resultado de “comer demais e pouco exercício” é que outras pessoas com essa condição se culpam, como se nunca tivessem feito o suficiente, e negam ajuda.
“As pessoas pensam que é simples: ‘você só precisa querer, comer menos e se exercitar mais’. Isso faz com que eles acreditem que não querem assistência profissional e que podem resolver tudo sozinhos”, observa Halpern.
“Se eles procuram um profissional para reforçar essa ideia, acabam acreditando que é fácil. Quando eles não conseguem realizar o que planejaram, eles sentem que tudo chega até eles.
Hoje, teremos também a forte influência das redes sociais e influenciadores que, baseando seu discurso em um conhecimento superficial da doença, contribuem para que os pacientes se sintam culpados. “O próprio usuário é incapaz e se pergunta: “por que não, todo mundo faz e eu não?’, acaba sendo até uma ameaça a distúrbios intelectuais, como a depressão”, alerta o presidente da Abeso.
A endocrinologista Maria Edna de Melo, líder da Liga Contra a Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), alerta que a perpetuação de narrativas errôneas sobre a obesidade pode até contribuir para a progressão da doença.
Isso ocorre porque outras pessoas são mais vulneráveis ao estresse, depressão e, consequentemente, compulsão alimentar.
Outro ponto importante é que essas outras pessoas também possivelmente seriam desencorajadas a procurar ajuda profissional, acreditando que resolver o problema é uma questão inegável e individual e recusando remédios como medicamentos, cirurgias ou arranjos nutricionais.
“Isso é especialmente negativo para as pessoas mais gravemente afetadas pela obesidade, que enfrentam maior estigma e preconceito, condições ainda mais negativas durante os anos de formação e adolescência”, diz o endocrinologista.
As consequências também se refletem nas fórmulas das políticas de condicionamento físico, pois os profissionais e gestores do setor carecem de conhecimento sobre a situação. “Isso mostra que queremos educação acima de tudo.
Antes de falar de epidemiologia, como prevenção, queremos abordar as facetas biológicas da doença e como estas exigem que cada paciente obtenha um tratamento personalizado”, recomenda o médico da USP.
Segundo Halpern, atribuir a obesidade apenas a possíveis opções individuais também é uma desculpa conveniente para não formular políticas públicas eficazes.
“Ao atribuir a doença exclusivamente às decisões privadas, entende-se, tanto para a fórmula como para a sociedade e as indústrias, que não é necessário identificar políticas de prevenção e cura; no final, basta que cada pessoa faça a sua parte . parte” “É precisamente por causa desta explicação que é vital opor-se a esta conversa, porque do jeito que as coisas estão, ela encoraja a inação. “