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31/07/2024 10:49, atualizado em 31/07/2024 10:49
A obesidade é uma doença crônica que afeta mais de um bilhão de pessoas, de acordo com uma pesquisa global publicada em fevereiro na revista The Lancet. Mas o conceito de que esta doença é simplesmente semelhante ao hábito de comer demais e se exercitar muito pouco não faz sentido incomum.
Esse pensamento simplista (fornecer em setores da sociedade, adicionar condicionamento físico) é conhecido por especialistas como negativo para a compreensão da complexidade metabólica da doença. Além disso, influencia negativamente as decisões das autoridades de fitness, dificulta a procura de assistência médica e perpetua o estigma e o preconceito.
No Brasil, a obesidade atinge um em cada quatro adultos, segundo o Ministério da Saúde. Com o atual ritmo de expansão, estima-se que quase uma parte (48%) da população brasileira será diagnosticada com a doença até 2044, segundo pesquisa do Ministério da Saúde. Fiocruz Brasília apresentada em junho.
Apesar destes números alarmantes, o estudo aprofundado da obesidade é recente: começou há menos de dez anos. Contudo, mesmo diante de evidências crescentes de que se trata de uma doença multifatorial, ainda prevalece a visão de que se trata de uma doença simples de tratar.
É por isso que os profissionais de fitness têm defendido um novo símbolo da obesidade. O termo, emprestado do marketing, pensa em uma nova “cara” para um logotipo, transformando elementos visuais e de posicionamento, por exemplo.
“Discutir a reforma da obesidade é, em última análise, falar sobre pessoas. Muitos veem a doença como uma inegável falta de força de vontade, comer demais e falta de exercícios. Não só é incorreto, mas também é um discurso ultrapassado”, disse o nutricionista Guilherme Giorelli, professor de pós-graduação em nutrição do Hospital Israelita Albert Einstein, em apresentação no IX Fórum Latino-Americano de Nutrição. qualidade e segurança da aptidão física, realizada em São Paulo. de 9 a 11 de julho.
Para Giorelli, o fato de essas discussões serem recentes contribui, de alguma forma, para a falta de uma identidade transparente e explicada para a obesidade, ainda hoje. Isso significa que, embora existam critérios para ser considerada uma doença, tendo uma fisiopatologia e mecanismos etiológicos bem explicados, na maioria das vezes ela só é identificada como um “fator de risco” devido à sua capacidade de causar outros tipos de doenças, como hipertensão e diabetes.
A contradição é que o mesmo não acontece com outras condições de condicionamento físico, como diabetes e depressão, que são explicadas como “doenças” com base nos mesmos critérios estabelecidos. De acordo com uma pesquisa de 2019 do National Institutes of Health (NIH) nos Estados Unidos, 32% das pessoas não consideram a obesidade uma doença crônica. Entre os profissionais de fitness, esse percentual é de 12%.
Em entrevista à Agência Einstein, Giorelli ressalta que essa falta de uma identidade bem definida, além de destacar a falta de estratégias de comunicação eficazes, está ajudando a que as complexidades biológicas da doença sejam gentilmente ignoradas e os equívocos se perpetuem.
“Essa palavra ‘você é o que você come’ é um erro clínico grave, porque se outras duas pessoas comem a mesma coisa ou fazem o mesmo exercício, o resultado nunca será idêntico”, diz o nutricionista Einstein.
Para o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), é importante perceber que as causas da obesidade são diversas.
Embora o excesso de calorias aumente o risco de obesidade na população, estima-se que 70% da doença corresponda a uma carga genética, o que faz com que métodos baseados apenas em “comer menos, movimentar-se mais”, embora para todos, sejam inúteis para alguns diagnosticados. . com o estado.
Isso significa que, assim como a doença se manifesta de outras formas, o remédio também deve levar em consideração as individualidades de cada indivíduo. Isso pode incluir, além de nutrição inteligente e exercícios, intervenções como medicamentos e até cirurgia.
Outro ponto é que muitos mecanismos relacionados à obesidade ocorrem no cérebro, o que influencia o consumo de alimentos. Por exemplo: o hipotálamo, região do cérebro que controla a fome, a sede, a temperatura corporal e a respiração, regula o peso corporal até que o peso máximo atingido seja atingido.
“Ou seja, quando um usuário consome menos calorias ou aumenta a atividade física, o gasto metabólico diminui e a fome aumenta na tentativa do corpo de retornar ao seu peso ‘original'”, diz Halpern.
Além disso, fatores externos como medicamentos, desreguladores endócrinos, poluição do ar e falta de sono também podem contribuir para o desequilíbrio energético que leva à obesidade.
Um dos grandes perigos da visão simplista de que a obesidade é simplesmente o resultado de “comer demais e se exercitar muito pouco” é que outras pessoas com essa condição se culpam, como se nunca tivessem feito o suficiente, e recusam ajuda.
“As pessoas acham que é simples: ‘Basta querer, comer menos e fazer mais exercícios’. Isso faz com que acreditem que não precisam de ajuda profissional e que podem resolver tudo sozinhos”, observa Halpern. “Se procuram um profissional para reforçar essa ideia, acabam achando que é fácil. Quando não alcançam o que se propuseram a fazer, sentem que algo está errado com eles.
Hoje teremos também a forte influência das redes sociais e influenciadores que, baseando seu discurso em um conhecimento superficial da doença, contribuem para que os pacientes se sintam culpados.
“O usuário se considera incapaz e se pergunta ‘por que todo mundo e eu podemos fazer isso?’ Acaba sendo até uma ameaça para distúrbios intelectuais, como a depressão”, alerta o presidente da Abeso.
A endocrinologista Maria Edna de Melo, líder da Liga Contra a Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), alerta que a perpetuação de narrativas errôneas sobre a obesidade pode até contribuir para a progressão da doença. Isso ocorre porque outras pessoas são mais vulneráveis ao estresse, depressão e compulsão alimentar.
“Quando estamos estressados, nossa biologia nos incita a consumir alimentos mais saborosos, que contêm mais açúcar, gordura e/ou sal, o que leva ao consumo excessivo de calorias, o que agrava a obesidade”, destaca Melo.
Outro ponto vital é que essas outras pessoas também possivelmente seriam desencorajadas a procurar ajuda profissional, acreditando que resolver o desafio é uma questão simples e individual e rejeitando remédios como medicação, cirurgia ou suporte nutricional.
“Isso é especialmente negativo para as pessoas mais gravemente afetadas pela obesidade, que enfrentam maior estigma e preconceito, condições ainda mais destrutivas durante os anos de formação e adolescência”, enfatiza o endocrinologista.
As consequências também se refletem nas fórmulas das políticas de aptidão, uma vez que há desconhecimento sobre a condição entre profissionais e gestores do setor. “Isso mostra que acima de tudo queremos treinar. Antes de falar de epidemiologia, como controle e prevenção, teremos que abordar as facetas biológicas da doença e como estas exigem que cada paciente receba um tratamento personalizado”, recomenda o médico da USP.
Segundo Halpern, atribuir a obesidade apenas a possíveis opções individuais também é uma desculpa conveniente para não formular políticas públicas eficazes.
“Ao atribuir a doença exclusivamente a decisões não públicas, entendemos, tanto para a fórmula como para a sociedade e as indústrias, que não é obrigatório identificar políticas de prevenção e remediação; Afinal, cada um terá que fazer a sua parte”, afirma. “É exactamente por isso que é vital opor-se a esta conversa, porque do jeito que as coisas estão ultimamente, encoraja a inacção. »
(Fonte: Agência Einstein)
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