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É natural que em uma temporada dominada pelos populares PSG e Olympique de Marseille e em que o Lyon reforça seu contingente brasileiro, com Juninho Pernambucano como diretor e Bruno Guimarães como a contratação do ano, o foco fique nessas três equipes quando falamos de Ligue 1. Entretanto, dois times têm reforçado nas últimas semanas as boas campanhas que fazem e, após 28 rodadas, têm, enfim, vantagem confortável na briga pela última vaga na Champions League: Rennes e Lille. Campanhas de destaque que ganham ainda mais brilho ao constatarmos os desmanches dos quais ambos foram vítimas – e a consequente reconstrução pontual que fizeram.
A última rodada serviu de declaração de intenção às duas equipes. O Lille recebeu no Estádio Pierre-Mauroy um Lyon em ascensão, impulsionado pela chegada de Bruno Guimarães e vindo de vitórias contra o arquirrival Saint-Étienne e contra a Juventus, pela Champions League – apesar da derrota por 5 a 1 para o PSG. Seis pontos separavam as duas equipes, e era a oportunidade perfeito para o OL consolidar sua boa fase e se aproximar da briga por uma vaga nas competições europeias.
No entanto, o Lille mostrou que não ocupa a quarta colocação por acaso. Superior ao adversário, cancelou as forças da equipe de Rudi Garcia, forçou Bruno Guimarães a trabalhar mais defensivamente do que ofensivamente e, com um gol de Loïc Rémy, após bonita trama em escanteio, aumentou a distância para o oponente para nove pontos.
O Rennes, por sua vez, foi impiedoso contra o Montpellier: em sua “partida de referência” na temporada, como definiu o próprio técnico Julien Stéphan, os rubro-negros golearam por 5 a 0 em grande atuação coletiva. Uma resposta firme depois da eliminação na semifinal da Copa da França diante do Saint-Étienne.
Com os resultados do último fim de semana, Rennes, terceiro colocado, e Lille, que ocupa o quarto lugar, referendaram sua grande campanha na temporada, abrindo distância confortável para o quinto colocado, Reims, e o batalhão de equipes que vêm a seguir. Se a diferença do quinto para o 11º é de apenas três pontos, Rennes e Lille abriram vantagem de nove e oito pontos, respectivamente, para o primeiro time fora das vagas europeias.
A maneira como ambos chegaram tão bem na liga a essa altura da temporada, a dez rodadas do fim, é também um bom testamento dos trabalhos executados nos clubes da Normandia e do norte da França, especialmente após o êxodo vivido por cada um deles.
Sob um projeto esportivo interessante do ex-presidente Olivier Létang, que chegou ao clube no fim de 2017 e deixou a instituição recentemente, no começo de fevereiro, o Rennes foi a quinta equipe que mais pontuou em média na Ligue 1 no período. O grande triunfo deste projeto foi o título da Copa da França da temporada passada, conquistada em cima do PSG de Neymar e Mbappé.
A boa temporada 2018/19 levou a um desmanche na equipe, que perdeu seis dos 11 titulares daquela final contra os parisienses. Ao fim de seus contratos, Mexer foi para o Bordeaux, enquanto Hatem Ben Arfa ficou sem clube até acertar na última janela com o Valladolid. Ismaïla Sarr foi vendido por € 30 milhões ao Watford, o goleiro Tomas Koubek, por € 7,5 milhões ao Augsburg, Ramy Bensebaini rumou ao Borussia Mönchengladbach por € 8 milhões, e Benjamin André foi vendido por € 7 milhões justamente ao Lille.
O Rennes contratou dentro de suas possibilidades para repor as perdas, e seus três recrutados mais caros deram resultado: o brasileiro Raphinha, ex-Sporting de Lisboa, custou € 21 milhões, M’Baye Niang, que estava no Torino, saiu por € 15 milhões, e Flavien Tait, que defendia o Angers, por € 9 milhões. Todos eles titulares e importantes à boa campanha do Rennes em 2019/20.
O Lille se saiu ainda melhor em suas incursões no mercado de transferências. A equipe terminou 2018/19 como vice-colocada da Ligue 1 e tendo em seu plantel o artilheiro da competição: Nicolás Pépé. A campanha atraiu os olhares de clubes maiores, é claro, e o time fez bastante caixa com as vendas. O marfinense foi vendido ao Arsenal por € 80 milhões. Rafael Leão foi para o Milan por € 23 milhões. O Lyon foi pinçar dois jogadores: o brasileiro Thiago Mendes, por € 22 milhões, e o bom lateral Youssouf Koné, por € 9 milhões. Por fim, o Aston Villa contratou Anwar El Ghazi, também por € 9 milhões.
Ao todo, arrecadou € 143 milhões, e então foi às compras. Certeiro como o Rennes, trouxe atletas que viraram a base do sucesso na atual temporada. Yusuf Yazici chegou do Trabzonspor por € 17,5 milhões e, até o momento de sua lesão no ligamento cruzado, foi titular do time de Christophe Galtier. Victor Osimhen foi um grande achado. O atacante nigeriano, de apenas 20 anos, foi contratado do Charleroi, da Bélgica, por € 12 milhões e trouxe frutos imediatos, acumulando até agora 13 gols e cinco assistências em 27 jogos na Ligue 1.
Renato Sanches, que aos 22 anos já parecia destinado a não ter a carreira que todos esperavam, foi contratado do Bayern de Munique por € 20 milhões e se transformou nos Dogues, virando referência técnica e organizador do jogo do Lille. Benjamin André não era incógnita alguma, por seu bom trabalho no Rennes. Titular absoluto no LOSC, só esteve fora de dois jogos no Campeonato Francês.
Por fim, Timothy Weah, filho de George Weah, chegou do PSG por € 10 milhões, mas, assombrado por lesões, pouco jogou até agora (três partidas) e segue como aposta para o futuro. Além dele, vários outros nomes jovens se juntaram ao elenco de Galtier, entre eles Manuel Cafumana, o “Show”, como é conhecido o angolano de 20 anos, Tiago Djaló, que estava no Milan, e Domagoj Bradaric, promissor lateral esquerdo que já chegou como titular.
À exceção de PSG e, em certo nível, Olympique de Marseille, a temporada de futebol francês tem sido marcada por certa irregularidade das equipes, à qual Rennes e Lille não foram exceção. Entretanto, ambas viveram boas sequências que permitiram chegar ao fim da 28ª rodada com vantagem tão grande para o quinto colocado.
O Rennes viveu um mês de dezembro especial, com cinco vitórias seguidas, incluindo triunfos contra Saint-Étienne e Bordeaux em casa e contra o Lyon fora de casa. Atualmente, vem de três vitórias seguidas, com vitórias sobre Nîmes, Toulouse e Montpellier. O Lille também encaixou três triunfos consecutivos nas últimas três rodadas, batendo Toulouse, Nantes e Lyon. Além disso, venceu o próprio Rennes por 1 a 0 recentemente, em 4 de fevereiro.
Não há muito que sugira que a briga pela última vaga na Champions League se estenderá para além dos dois atuais concorrentes. Em termos de potencial crescimento até o fim da Ligue 1, apenas o Lyon parece em condições de, com sorte, se intrometer na disputa. Ainda assim, a derrota para o Lille na última rodada deixou o OL a nove pontos do quarto colocado.
Com o PSG garantido, o Marseille confortável na segunda colocação e com a saudável distância para o pelotão de trás, Rennes e Lille deverão protagonizar um duelo particular, e a tabela parece favorecer mais os Dogues.
Se, por um lado, o Lille terá seis jogos fora de casa e quatro como anfitrião, por outro a equipe não enfrentará mais times do Top 4: já fez seus jogos de turno e returno contra PSG, Marseille e Rennes. Além disso, da classificação atual, os confrontos mais difíceis serão em Lille, contra Nice, Reims e Monaco. Os rubro-negros, por sua vez, têm no Lyon um difícil oponente daqui a duas rodadas. Para piorar, têm pela frente o PSG na penúltima rodada da Ligue 1.
Todos esses prognósticos, é claro, podem acabar sendo afetados pela influência do surto de coronavírus na disputa do campeonato. Inicialmente, as partidas terão portões fechados até 15 de abril, mas não dá para descartar uma suspensão como a vista na Itália.
Uma classificação à Champions League valerá um novo aporte financeiro importante a uma dessas equipes, enquanto a Liga Europa, apesar de não ter o mesmo peso, pode também reforçar os cofres. Com a qualidade com que repuseram suas perdas passadas, é inevitável esperar com otimismo pelo desenvolvimento de seus projetos para além da campanha atual.