Cândido Grzybowski: para começar qualquer discussão, Paulo Guedes tem que sair

“Até quando vamos segurar a fila do Bolsa Família com tanta gente na rua? Até quando vamos segurar os benefícios do INSS para milhões?”, questiona sociólogo

São Paulo – Nesta quinta-feira (12), o pânico voltou a dominar os mercados em todo o mundo. No Brasil, o dólar comercial fechou, mais uma vez, com o maior valor nominal desde a criação do Plano Real, a R$ 4,786 na venda, batendo o recorde da segunda-feira (9), quando fechou a R$ 4,726. A operação da Bolsa de Valores, pela primeira vez na história, foi suspensa duas vezes no período da manhã.

A crise do preço do petróleo provocada pela “guerra” entre Arábia Saudita e Rússia foi exponencialmente alimentada no mundo pelo alastramento do coronavírus. Na segunda-feira, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmava que a crise era uma “fantasia”.

Três dias depois, hoje, o jornal mais importante dos Estados Unidos, The New York Times, noticiou em manchete em seu site que “uma autoridade brasileira testou positivo (para coronavírus) depois de estar com o presidente (Donald Trump)”. É uma referência ao secretário de Comunicação da Presidência brasileira, Fábio Wajngarten, que esperava a contraprova do teste. Ele integrou a comitiva de Bolsonaro que esteve com Trump e assessores esta semana.

Segundo o jornal nova-iorquino, o Federal Reserv (o banco central americano) ofereceu US$ 1,5 trilhão em empréstimos de curto prazo a bancos para conter a queda da Bolsa, sem sucesso.

Nesse cenário obscuro, “uma das piores situações é a do Brasil”, acredita o sociólogo. “O que vamos fazer? Comer soja? Nos tornamos tão primários, destruímos nossa capacidade de enfrentar problemas. No Rio, nem água boa temos, para beber.”

Com as políticas de ajuste fiscal neoliberais implementadas no país nos últimos anos, os programas sociais estão sendo desconstruídos e a pobreza cresce. “Até quando vamos segurar a fila do Bolsa Família com tanta gente vivendo na rua? Até quando vamos segurar os benefícios do INSS para milhões que estão na fila?”, questiona Grzybowski.

E a crise do coronavírus pega o país despreparado e com o Estado em processo de desmonte. “A gente tende a ver impactos bastante dramáticos dessa epidemia, que nos pega no pior cenário de governo possível”, acredita a economista Laura Carvalho.

E, apesar da arrogância do “superministro” da Economia, Paulo Guedes, diante do cenário econômico que preocupa todos os líderes mundiais, o fato é que, para Grzybowski, ele não sabe o que fazer. “Paulo Guedes não está entendendo nada do que está ocorrendo.”

Como avalia politicamente o panorama da crise?

Não sou economista, mas o neoliberalismo nunca funcionou, em nenhum lugar. Crises sempre se resolveram com muita morte, com guerras. É difícil esses caras acreditarem que essa riqueza é fictícia e que em algum momento têm que perder. Não sei se vai ter guerra agora, mas guerra temos para todo lado, mas elas pipocam aqui e ali, são guerrinhas. Não sei se há a capacidade de eles entenderem que não dá mais. No Brasil, não temos condições políticas.

O sr. vê soluções possíveis?

Você dominação do mercado?

O sr. já comentou que, mesmo figuras importantes, lideranças proeminentes do Fórum Econômico Mundial de Davos ou do mercado têm um nível aceitável, o que não acontece com nosso ministro da Economia…

Sim, (os líderes mundiais) estão falando em novo pacto. Dizem: “estamos destruindo a galinha dos ovos de ouro”, a desigualdade é tamanha que não dá mais. Mas falam em pacto para que se mude, mas não tanto. O fato é que estão vendo que, do jeito que está, não dá para continuar.  

E nesse cenário obscuro, o Brasil fica numa situação desesperadora…

Uma das piores situações é a do Brasil. Porque hoje não tem estofo. O que vamos fazer? Comer soja? Nos tornamos tão primários, destruímos nossa capacidade de enfrentar problemas. No Rio nem água boa temos, para beber. As pessoas têm que lutar pela sobrevivência no dia a dia, e está difícil. No caso brasileiro ainda têm as igrejas pentecostais, que acham normal tudo isso. “Vão vencer os bons.” Não sei quais (risos). Para a gente começar a discutir qualquer coisa, o Guedes precisa sair.

Mas adianta Guedes sair e Bolsonaro continuar?

Vejo que talvez não precise fazer muita coisa para essa agenda cair de podre, porque não tem mais de onde tirar recursos. Tem que mudar totalmente. Tem que ter legitimidade para emitir moeda. Mas eles estão presos a um pacto com esses banqueiros, esse setor que domina a agenda. O Guedes, ele mesmo é um banqueiro também. O quadro é complicadíssimo, em termos políticos. Teria que ter um pacto bastante amplo, para a gente não afundar todo mundo junto.

Se nesse contexto a popularidade de Bolsonaro despencar muito, com esse quadro ele poderia cair ao longo do ano?

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