“Eu comecei a tentar jogar todos os dias como se fosse uma nova carreira”

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*Na atualização

O motociclista Paulo Gonçalves morreu no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo. O piloto português de 40 anos morreu na sequência de uma queda refere a organização do Dakar em comunicado.

O acidente ocorreu ao quilómetro 276 da sétima etapa, de 12, da corrida, entre Riade e Wadi-al Dawasir, que se estava a realizar este domingo. Ao todo, esta prova tinha 546 quilómetros.

Depois de anos a competir pela marca japonesa Honda, Paulo Gonçalves participava pela primeira vez no Dakar pela indiana Hero.

Décès du pilote portugais Paulo Gonçalves.

A morte do piloto português Paulo Gonalves.

+ info: https://t.co/mBQxbXgtXe#Dakar2020 pic.twitter.com/amW48i4C2G

— Dakar (@dakar) 12 de janeiro de 2020

Segundo conta o El Espanol, o piloto australiano Toby Price (KTM), vencedor da última prova do Dakar, tentou ajudar o português.

A organização da prova foi avisada do acidente às 10h08 (hora local) e, às 10h16, um helicóptero de apoio chegou ao motociclista mas este já estava “inconsciente depois de entrar em paragem cardíaca”. O piloto português ainda foi levado de helicóptero para o Hospital de Layla, em Riade, onde foi declarado o óbito.

Este sábado o piloto português deixou no Instagram um vídeo com um “breve resumo” sobre a prova que estava a realizar.

A brief summary of how it has gone to this day in the @dakarrally #racethimits #therallylife @heromotosports @alpinestars @scottmotosports @crosspro.oficial @municipio_de_esposende

Uma publicação partilhada por Paulo Gonçalves (@goncalvesspeedy) a 11 de Jan, 2020 às 7:43 PST

No vídeo explica: “Comecei o rally de forma regular. Infelizmente, no terceiro dia, tive um problema mecânico que quase me colocava fora da corrida. Consegui resolver, mantive-me na corrida. A partir desse dia o objetivo foi alterado, obviamente”, diz. E continua: “Sem conseguir um bom resultado final passei a tentar disputar cada dia como se fosse uma corrida nova. Consegui bons resultados até ao momento. Consegui ser 4º numa etapa, 8º e 1oº”.

Paulo Gonçalves estava a participar na sua 13ª prova do Dakar. Foi o vencedor do Campeonato Mundial de Rally Cross-Country em 2015. O piloto natural de Esposende participava no Rally Dakar desde 2006 tendo ficado quatro vezes no top 10 da prova. O motociclista começou a carreira a participar em provas de motocross.

Foi em 2015 que o motociclista conseguiu o seu melhor resultado nesta prova quando terminou o Dakar no segundo posto, a 16m53s do vencedor, tempo de atraso causado pelos 17 minutos acumulados nas três penalizações que lhe foram impostas durante a corrida. Na altura, tinha 35 anos.

Em 2016, falava da vontade e ambição de conseguir ganhar a prova: “Vejo pilotos que ganham um Dakar com 40 e 50 anos, com performances incríveis. Se olhar para as idades dos pilotos de motas que estão em competição, tenho pelo menos mais 10 anos de Dakar pela frente. Continuo a acreditar que é possível, cada vez mais, e Portugal nunca esteve tão perto de o conseguir. É a minha grande motivação”.

Paulo Gonçalves parou, em 2016 para ajudar Matthias Walkner. O piloto português ficou junto do austríaco até a equipa médica chegar. Por causa disso perdeu perto de 11 minutos, que foram compensados posteriormente pela organização.

[O momento em que Paulo Gonçalves ajudou Matthias Walkner]

No mesmo ano, o piloto contava também sobre esta prova: “Bem, não me considero o senhor azar, porque tive a possibilidade de regressar sem problemas de maior. É um Dakar que teve partes muito positivas e uma parte menos boa, que foi o facto de não ter conseguido alcançar o resultado final ao qual me propunha. Ou pelo menos um que me satisfizesse. Fiz uma corrida de altos e baixos”.

A última vez que alguém morreu durante a prova do Rally Dakar foi em 2015, quando o motociclista polaco Michal Hernik morreu por desidratação.

O Dakar 2020 começou a 5 de janeiro e terminará a 17 deste mesmo mês. Com um percurso de quase oito mil quilómetro, começou em Jidá e vai terminar em Al-Qiddiya.

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte do motociclista Paulo Gonçalves apresentou “à família enlutada as mais sentidas condolências”. “Paulo Gonçalves morreu a tentar alcançar o sonho de vencer uma das mais duras e perigosas provas de rally do mundo, na qual foi sempre um digníssimo representante de Portugal, chegando a alcançar o segundo o lugar em 2015”, disse o chefe de estado numa mensagem.

Jorge Viegas, presidente da Federação Internacional de Motociclismo (FIM), disse à Rádio Observador que Paulo Gonçalves “era um exemplo a seguir”. Como conta o responsável na modalidade: “Fui acordado pela notícia pelo diretor da prova. Não posso estar mais triste. O Paulo era uma excelente pessoa, era um amigo que corria desde pequenino. Era um grande piloto. Era um exemplo a seguir”.

O presidente da FIM lembrou ainda o momento, em 2016, em que Paulo Gonçalves recebeu o Prémio de Ética no Desporto, atribuído pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude.

É muita estranha a circunstância da morte porque foi numa reta. Ele nem sequer ia àquelas velocidades loucas que por vezes há no Dakar. A verdade é que foi encontrado já sem vida. Não se sabe [a circunstância da morte]. Mas pouco importa, estamos de luto carregado”, diz Jorge Viegas.

Sendo uma reta, Jorge Viegas justifica, também, a afirmação: “Não se sabe se algo aconteceu fisicamente antes da queda. Você tem que esperar a autópsia”, finaliza.

Manuel Marinheiro, presidente da Federação de Futebol falou também à Rádio Observador referindo: “Foi uma grande perda para o motociclismo e para o desporto nacional, até porque o Paulo era desportista de eleição mas também um excelente homem e um exemplo a seguir por todos e qualquer desportista”. O responsável lembrou também o momento em que o motociclista ficou a apoiar um rival: “Foi merecedor de prémios de Fairplay da federação de desporto e da federação de desporto de internacional”.

O jornalista e amigo do piloto, Rui Belmonte, revelou ao Observador algumas histórias que marcaram a amizade entre ambos. Uma, em particular, remonta a uma das primeiras edições de sempre do Dakar, em Marrocos. Belmonte lembra que estava a acompanhar Paulo Gonçalves e que o piloto sofreu uma queda violenta, danificando a mota.

Informaram-me que o Paulo tinha voltado para trás com a mota totalmente partida e que era impossível regressar à corrida. O que é certo é que o Paulo conseguiu de alguma forma remendar a mota com o que havia à mão: muitos arames a braçadeiras de plástico. O típico desenrasca como só os portugueses sabem fazer. E conseguiu voltar à especial”, lembra. 

“Acompanhámos o Paulo na prova, iluminando o seu caminho com a nossa pick-up — porque a mota nem tinha luz. Com muitas dificuldades, foi andando à nossa frente, devagarinho. Conseguiu reparar a mota e terminar. Quando tudo apontava para que abandonasse, não: a força dele levou a que, mais uma vez, conseguisse encontrar uma solução de recurso e terminar a corrida“, conta ainda o jornalista.

“O Paulo Gonçalves era uma força, tinha uma força de vontade e querer enorme, como muito poucos pilotos têm. E, naturalmente, é isso que faz a diferença entre ser campeão, como ele foi em 2013, e aqueles que sonham, mas nunca conseguem lá chegar. O Paulo sonhou, lutou e conseguiu lá chegar“, lembra Rui Belmonte.

O clube Sport Lisboa e Benfica, do qual Paulo “foi parceiro”, também lembrou o piloto. “Foi parceiro do Sport Lisboa e Benfica em vários anos e sentia grande orgulho em ostentar a águia no equipamento de motard, nomeadamente no capacete, durante as provas sobre duas rodas. O Sport Lisboa e Benfica endereça sentidas condolências à família e amigos de Paulo Gonçalves neste dia de luto para o desporto motorizado”, escreve o clube no seu site oficial.

Mesmo noutras modalidades, o desportista é lembrado.O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, refere que “o desporto português perdeu um dos seus maiores atletas” e assinala que “Paulo Gonçalves foi sempre um símbolo de talento, vocação, persistência e coragem. Um exemplo de tenacidade e também de desportivismo”. O líder da FPF destaca ainda “os resultados alcançados por Paulo Gonçalves que o tornaram uma referência na modalidade mas também o exemplo de inspiração que representou o seu trajeto de desportista”.

A reações à morte de Paulo Gonçalves não tardaram a surgir também nas redes sociais. No Instagram, Miguel Oliveira, motociclista português que participa em provas mundiais como o Moto GP lembrou o piloto do Dakar. “Paulo, deixaste uma marca profunda na vida de quem teve o privilégio de se cruzar contigo. A tua coragem e valentia são exemplo para todos nós. DEP [Descansa em paz]”, escreveu Miguel Oliveira

A partilha de Miguel Oliveira no Instagram

O automobilista português António Félix da Costa também utilizou a mesma rede social para prestar homenagem ao piloto. “Um dos maiores guerreiros do nosso desporto. Deixou nos a fazer o que mais gostava. És um tigre Paulo. Descansa em Paz!”, escreveu.

À SIC Notícias, o motociclista Bernardo Vilar, prestou as condolências à família e a todos os motards. Era “uma pessoa super gentil, era uma referência”. O piloto salientou ainda que Paulo Gonçalves “teve uma carreira excelente”. “Começou como piloto privado com a suas dificuldade”. Por fim, salientou: “Perdemos um grande piloto (…) perdi um grande amigo”.

O Presidente da Câmara Municipal de Esposende, de onde o piloto é natural, adianta ao Observador que a cidade vai decretar um dia de luto municipal como forma de homenagem.

Era uma pessoa fantástica. Vivem-se aqui momentos de muita consternação e tristeza, porque ele era um homem muito disponível para colaborar com as instituições, era uma pessoa do povo. Constantemente o víamos aqui na rua com a família, tinha muitos amigos. Nas redes sociais, muita gente tem fotografias com ele porque ele era dado a essas coisas, a conviver, a ajudar sem pedir nada em troca. Era efetivamente um ser humano fantástico”, lembra Benjamim Pereira.

O autarca lembra um “anti-herói”, um homem humilde e que nunca se deixou “envaidecer”. O dia de luto será combinado com a família e será no dia do funeral.

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