Reduzir as emissões de CO2 e o consumo de água em 60% até 2030, ter uma rede de distribuição de água reciclada própria em toda a cidade até 2025, ter mais 100 hectares de zonas verdes até 2021 e até nadar no rio Tejo são algumas das metas da Câmara de Lisboa para tornar a cidade na Capital Verde Europeia. O maior objetivo é atingir a neutralidade carbónica em 2050.
Os compromissos ambientais foram anunciados, ao final desta manhã, na apresentação oficial do programa da Lisboa Capital Verde Europeia 2020. Os objetivos são “ambiciosos”, reconheceu o vereador do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, “mas são possíveis e até poderão ser ultrapassados”, acredita. Para cumprir as promessas, o município dispõe de 60 milhões de euros.
Sá Fernandes, que esteve a apresentar as várias metas durante uma hora, admitiu que Lisboa “não é a cidade mais sustentável do mundo”, mas foi a que, até hoje, “mais evoluiu e progrediu nesta matéria”. “Ganhamos o galardão de Capital Verde porque evoluímos muito em todos os parâmetros ambientais e porque queremos continuar a evoluir”, explicou. “Já reduzimos o consumo da água na cidade em 33% e na câmara em 46%. Apesar de tudo, evoluímos bastante”, frisou.
O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, que discursou no final, reforçou também que as emissões de CO2 estão a diminuir no país e a produção de energia solar “aumentou imenso”. “Somos a capital da Europa com mais horas de exposição solar”, lembrou o autarca.
Reciclagem duplo
Para fazer a cidade mais sustentável, o município comprometeu-se a melhorar a qualidade do ar de Lisboa, reduzir os níveis de ruído e superar os 100 megawatts (mw) de energia solar instalada para 2030. Quanto aos resíduos, o município quer reduzir em 50% a quantidade de lixo indiferenciado enviados para incineração e implantar em toda a cidade a coleta seletiva porta a porta de bio-resíduos.
Até 2030, a recolha de resíduos deverá ser de 50% (atualmente é de 28%) do total dos produzidos e a taxa de reciclagem e preparação para reutilização de 60%, em vez dos atuais 34,4%, ou seja, querem que esta duplique. “É difícil e ambicioso, mas é muito importante. Se conseguirmos reduzir a produção de resíduos, o que é muito difícil porque cada vez temos mais pessoas na cidade e mais turistas, estaremos a fazer um grande trabalho”, sublinhou o vereador Sá Fernandes.
Na área da mobilidade, a Câmara de Lisboa quer ter 200 quilómetros de ciclovias e uma infraestrutura ciclável que ligue toda a cidade. Já no início desta semana, na apresentação do projeto de requalificação da zona ribeirinha central, Medina voltou a falar do plano da autarquia de criar uma ciclovia entre Vila Franca de Xira e o Guincho, apesar de não haver ainda data para a conclusão deste projeto.
O município quer ainda que sete em cada 10 viagens sejam feitas em transporte público e reduzir as viagens de automóvel na cidade de 57% para 33%. “Por cada mil pessoas que troquem o carro por um meio alternativo, há menos cinco quilómetros de fila de automóvel na cidade”, exemplificou Medina. O autarca socialista lembrou ainda que “uma das maiores transformações em curso na capital” neste momento é o aumento do número de pessoas a utilizarem transportes amigos do ambiente. Um número que espera que continue a aumentar.
A autarquia deixou o compromisso de disponibilizar mil talhões de hortas urbanas até 2021, de ter 25% da cidade com espaços verdes até 2022 e de ter uma cidade sem cheias, realidade para a qual contribuirá o Plano Geral de Drenagem, que vai finalmente avançar, e as bacias de retenção de base natural.
Para que tudo isto seja possível, lembrou ainda o vereador do Ambiente, “temos de ter uma cidade mais pensada e planeada”. “Temos de preparar um Plano Diretor Municipal (PDM) que pense nisto, um planeamento urbano focado nas alterações climáticas é essencial”, sublinhou.
Programação
As iniciativas da Capital Verde Europeia arrancam oficialmente a 10 de janeiro, numa cerimónia de abertura no Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, que contará, entre outros, com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres. Nos dias seguintes, será inaugurada uma exposição dedicada ao mar, no Oceanário de Lisboa, e está prevista a plantação de 20 mil árvores num só dia – no Alto da Ajuda (4 mil), no Parque Vale da Ameixoeira (6 mil), no Parque da Montanha (9 mil) e no corredor verde de Monsanto (mil). No dia 1 de Junho, a Fundação Calouste Gulbenkian acolherá a abertura da “Green Week 2020”, uma iniciativa da Comissão Europeia. Durante o ano, Lisboa contará ainda com conferências e debates relacionados com a sustentabilidade.
Na próxima sexta-feira (6 de dezembro) ficará disponível o site “lisboagreencapital2020.com”, com várias informações, como as matrizes da água e da energia da cidade. Em janeiro, abrirá a Loja Capital Verde, na Praça do Município – um espaço com informação diária sobre a agenda climática e, em novembro do próximo ano, será inaugurado o Eco Centro e Centro de Interpretação de Resíduos e Energia (CIRE), no Parque das Nações. Este último, será um espaço de promoção da economia circular e de sensibilização para estas temáticas ambientais.
A oposição reage
No final da longa apresentação das metas ambientais do município lisboeta, o vereador do PSD na Câmara de Lisboa, João Pedro Costa, lamentou que o programa tenha sido preparado “em círculo fechado”. “Trata-se de um momento alto para a cidade e é pena que não nos tenham ouvido. O PSD esteve disponível para dar contributos e disse-o atempadamente, mas simplesmente não houve vontade. Teríamos preparado um programa aberto e com a participação de todos”, disse ao JN, no final da cerimónia de apresentação oficial do programa da Lisboa Capital Verde Europeia 2020.