Como uma dieta equilibrada pode alterar seu estado de ânimo e evitar

O que os médicos, nutricionistas e psicólogos estiveram investigando cuidadosamente nos últimos dez anos é o quanto nossos hábitos alimentares contribuem para os nossos estados mentais de euforia e tristeza. Também surgiu uma nova área de conhecimento: psiquiatria nutricional.

Os experimentos de laboratório com ratos têm ajudado a desvendar como a alimentação faz-nos mais felizes ou mais tristes. A origem não é só na nossa cabeça: para entender como a comida altera nosso estado de espírito, devemos também olhar para o intestino.

O que a ciência já sabe

Nós Somos o que comemos. A influência da dieta no nosso estado mental é imensa. Há uma abundante literatura médica sobre o tema.

Em geral, os especialistas observam o equilíbrio entre dois grupos alimentares: açúcares e gorduras. É com eles que temos a maior parte de nossa energia, mas também são eles que, em excesso, causam importantes desequilíbrios.

O Comer danifica gravemente o cérebro,por um processo conhecido como estresse oxidativo? a liberação de radicais livres de oxigênio no corpo ocorre naturalmente e adapta-se com a idade, mas a dieta pode acelerar a acumulação.

A obesidade induzida por dieta rica em açúcar e gordura saturada, promove a resistência do corpo à ação da insulina, um hormônio responsável por “colocar” a glicose dentro das células. Isso aumenta a glicose no sangue, que é a quantidade de açúcar presente no sangue.

Persistindo nesses hábitos alimentares, o desenvolvimento de diabetes pode ocorrer. Além disso, as gorduras saturadas comprometem o fluxo sanguíneo e causar inflamação nos órgãos.

Mas, o que é bom para o cérebro? Os alimentos anti-inflamatórios, as gorduras simples (monosaturadas ou poli-insaturadas) e antioxidantes, como frutas, vegetais, frutos secos e vinho parecem ter um efeito restaurador no órgão, protegendo-a do stress oxidativo e a inflamação, o que afeta o equilíbrio entre neurotransmissores, responsáveis por regular as emoções.

“Já sabemos que as dietas ricas em gorduras saturadas e/ou açúcares são capazes de mudar de humor tanto em animais de laboratório como em humanos. O consumo de alimentos gordurosos, como os alimentos lixo típicos, está associada com um aumento da depressão e da ansiedade”, diz Cristiano Mendes da Silva, do Laboratório de Neurociência e Nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A nutricionista Catherine Acesuka Giriko encontrou uma correlação entre as dietas ricas em gorduras e os estados de depressão e agressividade em uma prole de ratos adultos cujas mães ingestean alimentos gordurosos, enquanto que os amamentou.

“O uso de modelos animais, descobrimos que uma mulher grávida cuja dieta é alta em gorduras, o que pode gerar uma prole com atraso no neurodesenvolvimento e que tem alterações moleculares importantes na região do cérebro envolvidas com a memória e os processos de aprendizagem”, explica Mendes da Silva.

A epidemiógena Camille Lassale, pesquisadora da University College, do Reino Unido, diz que certos hábitos alimentares podem levar à depressão.

Lassale realizou uma análise, publicado em 2018 na revista Nature Molecular Psychiatry, em que comparou dados de 41 artigos científicos sobre o tema. Concluiu que incluir alimentos anti-inflamatórios na dieta é mais saudável e pode ajudar a prevenir a depressão.

“As pessoas que adotam uma dieta mediterrânea (com mais fibra, óleo de oliva, legumes, vegetais e frutas em natura e poucos produtos processados) tinham 33% menor risco de desenvolver depressão do que aqueles cuja dieta se parecia menos com a do mediterrâneo”, diz o Cientista.

“De qualquer forma, eu acho que a dieta ajuda, sim, algumas pessoas, e agora temos explicações biológicas como acontece isso. A dieta e os exercícios físicos previnem e combatem a depressão, mas só podem ser vistos como peças de um complexo quebra-cabeça somas da mente humana”.

A depressão está em chamas

É difícil dizer que não a uma colher de brigada quando algo dá errado em nossas vidas.

Em situações de cansaço, fadiga ou preocupação, o corpo parece pedir uma recompensa química, na forma de uma descarga de serotonina, um neurotransmissor responsável pela nossa sensação de bem-estar, produzido a partir da ingestão de açúcares e gorduras.

Quanto mais simples forem os alimentos, em termos químicos, que são mais fáceis de digerir, e maiores serão os “picos” de euforia. O açúcar refinado, os doces, sobremesas, chega mais rápido e mais forte ao cérebro que quando comemos alimentos, legumes e cereais integrais são mais complexos.

Mas o prazer é breve, e o excesso de glicose pode afetar o funcionamento de nosso corpo. Há evidência neurobiológica que apoia a “hipótese neuroinflamatoria” da depressão, que afirma que os comportamentos de ansiedade e depressão podem ser induzidos por dietas ricas em gorduras.

Mendes da Silva explica que uma dieta gordura e açucarada, compromete-se o fluxo sanguíneo. O colesterol ruim (LDL-colesterol) se oxida e promove um estado proinflamatorio dentro dos vasos sanguíneos, o que pode gerar uma resposta das células de defesa do corpo (monócitos), que fagócito (“comer”) estas moléculas até que a “explodir”.

Isto forma uma camada de gordura de dentro para fora do vaso sanguíneo, conhecida como placa de ateroma, que podem causar ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.

O mesmo pode ocorrer a nível cerebral: se moléculas deste tipo atravessam a barreira hemato-encefálica, que protege o sistema nervoso central, chegam às células do cérebro e ativam receptores que desencadeiam uma cascata de reações, incluindo a produção e liberação de moléculas que estimulam a formação de uma inflamação.

“A inflamação reduz os níveis de serotonina, o neurotransmissor da felicidade’, e aumenta o risco de depressão”, diz mendes da Silva. Ou seja, o mesmo agente de alegria é capaz de perturbar o organismo e causar tristeza depois.

A epidemiógena Deborah Estadella do Instituto de Saúde e Sociedade da Unifesp diz que o vilão não é alimentos ou nutrientes isolados, mas sim um padrão alimentar.

As boas refeições equilibradas os possíveis efeitos nocivos de uma barra de chocolate, por exemplo.

“A maioria dos estudos de nutrição e epidemiologia relatam isso, e o que se investiga são padrões macroalimentarios, como testes comparativos entre vegetarianos e não vegetarianos, pessoas que comem alimentos processados ou não, dietas regionais, como Mediterrâneo, Ásia e o Ocidente”, diz Estadella.

A influência dos microorganismos

A relação entre o que acontece no intestino e a saúde mental é um dos temas mais intrigantes e polêmicos de investigação sobre a nossa metagenómica, termo científico para o conjunto de bactérias, vírus e fungos que fazem parte de nosso corpo.

Esta abordagem é bastante recente dentro da medicina e tornou-se popular nos últimos anos.

Os microrganismos que habitam o corpo humano – estima-se que mais de 100 bilhões – são fundamentais para a absorção de nutrientes, vitaminas e equilíbrio químico dos neurotransmissores. Isto se deve a que “quebram” os nutrientes que ingerimos e criam moléculas que estimulam a atividade neuronal.

A maior parte deste exército está em nossos intestinos, cujas paredes estão cheias de terminações nervosas, no chamado sistema nervoso entérico.

É mesmo no intestino que há 90% dos receptores de serotonina, que além de interferir no humor e inibir a dor, regular o sono e o apetite.

Embora exista um consenso entre os pesquisadores de que a metagenómica se forma nos primeiros anos de vida de um indivíduo, é possível alterar o ambiente intestinal ao longo da vida. Nossas dietas fazem constantemente.

“A comunicação complexa entre o intestino e o cérebro é orquestrada por diferentes sistemas, incluindo o sistema nervoso sistema endócrino, imunológicas, autônomos e entéricos. As bactérias que vivem em nós têm uma função essencial para que a conexão aconteça”, diz Estadella.

O trato gastrointestinal secreta dezenas de moléculas diferentes. Estas substâncias podem ativar receptores nas células do sistema imunitário, permitindo, assim, uma espécie de conversa indireta entre o cérebro e o intestino.

A relação entre a metagenómica, o intestino e o cérebro foi explorado principalmente em estudos com animais. Mas essas pesquisas dão pistas importantes sobre o que pode acontecer em nossos organismos.

Um estudo publicado por cientistas belgas no início de 2019 na revista Nature Microbiology concluiu que as bactérias Faecalibacterium e Coprococcus podem sintetizar-se no intestino, uma substância derivada da dopamina, o neurotransmissor do prazer”.

Outra obra, obra de Julieta Schachter, do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com imunologistas de Taiwan, obesidade correlacionada, o microbioma intestinal ? o conjunto de bactérias que habitam este sistema? e depressão.

“A diversidade de microbiomas intestinais tem sido fortemente associado com transtornos do humor, incluindo o transtorno depressivo maior.

As investigações em roedores mostraram um início de comportamento depressivo depois de transplantes fecais de pacientes com este transtorno. Por outro lado, a indução do estresse e o comportamento depressivo em roedores deu lugar à redução da riqueza e diversidade do microbioma intestinal”, explica Mendes da Silva.

Terapia combinada

A depressão é uma doença de múltiplas causas e deficiências visíveis. Estima-Se que mais de 300 milhões de pessoas no mundo vivem com o transtorno. A doença afeta mais mulheres do que homens. Será que as pessoas que dormem e comem mal perdem a vontade e a alegria de viver e também a saúde? a Organização Mundial de Saúde diz que o custo económico da depressão, perda de produtividade, é de 1 bilhão de dólares por ano.

Nas últimas décadas, os psiquiatras tratam estes pacientes com medicamentos que atuam sobre os neurotransmissores. A intenção é reequilibrar a química do cérebro. Apesar dos progressos significativos, o tratamento não é eficaz em todos os casos. Além disso, é uma condição que, muitas vezes, é recorrente. Alguém que já teve depressão em algum momento da vida tem 50% para tê-la de novo.

Durante pouco mais de dez anos, estudos realizados por médicos, nutricionistas e biólogos têm proposto uma abordagem multidisciplinar da doença. A psiquiatria nutricional é um campo emergente que combina as descobertas do campo da epidemiologia e os efeitos de dietas regionais no microbioma no tratamento da depressão.

“Quando alguém recebe uma receita antidepresora, os efeitos colaterais mais comuns estão relacionados com o intestino. Muitas pessoas têm náuseas, diarreia ou problemas intestinais”, diz lassale. Para ela, a abordagem nutricional é fundamental no tratamento da doença.

O pesquisador Wolfgang Max trabalha em Food & Mood, um centro de investigação multidisciplinar da Universidade Deakin, na Austrália. O instituto reúne diferentes áreas do conhecimento, como a psicologia, a dietética, a biomedicina e a psiquiatria, para entender as formas complexas em que os hábitos alimentares influenciam o cérebro, o estado de ânimo e a saúde mental. Max diz Food & Mood atualmente realizada de 20 estudos sobre a relação entre os alimentos e o estado de ânimo em vários níveis, desde a medicina até os ensaios clínicos e de saúde pública.

O grupo, do qual o cientista Felice Jacka, pioneiro em estudos que associava a qualidade da dieta e a saúde mental de crianças e adolescentes, recomendou recentemente que a psiquiatria nutricional “para se tornar uma parte rotineira da prática clínica em saúde mental.

Max investiga como os polifenóis, compostos que se encontram em pimentão, frutas e vegetais, atuam sobre o microbioma e a saúde mental. “Há nutrientes complexos em alimentos crus ou mal processados. As carnes magras e outras fontes de zinco, ferro e ômega-3 asseguram uma ação antioxidante benéfica para o cérebro.”

Estadella da Unifesp diz que há provas sólidas de que o consumo de certos peixes e frutos do mar está relacionado com uma menor probabilidade de que o indivíduo tenha depressão, pois são alimentos que contêm ácido graxo omega-3. “Melhora a fluidez das membranas neuronais. Alguns estudos utilizaram omega-3, juntamente com antidepressivos e tiveram resultados positivos”, diz o pesquisador.

Mas ela afirma que antes de mexer com os intestinos e adotar o consumo freqüente de alimentos prebióticos, que servem como alimento para os nossos micro-organismos, e probióticos, que contêm estes microrganismos, é importante corrigir a dieta e evitar os alimentos e preferem as integrais.

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