Com a moderação da jornalista Luísa Bastos, candidatas à direção do debate psD esta noite na RTP o que querem para o partido e para o país. Por agora não há mais debate, de acordo com o debate.
Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz, os três candidatos à liderança do PSD.
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A data diz tudo ao PSD: 4 de dezembro. Passam hoje 39 anos da morte de Francisco Sá Carneiro. E é fácil de antecipar que nesta noite, no debate que juntará na RTP, a partir das 21.00, os três candidatos à liderança do PSD, todos, em maior ou menor grau, se reclamarão herdeiros do património político deixado pelo fundador do PSD.
Será este provavelmente o único momento de consenso no debate – o primeiro e provavelmente o único nesta campanha que reunirá no mesmo estúdio Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz. Todos os militantes com as quotas em dia estão convocados para a escolha. A eleição será em 11 de janeiro, com uma eventual segunda volta uma semana depois, a 18 de janeiro. A 22 de dezembro terminará o prazo para os militantes pagarem as suas quotas, se quiserem ter direito a votar
O site do PSD vai revelando, em atualização permanente, o número dos militantes com capacidade eleitoral ativa. Ontem, às 20.00, eram quase 23,5 mil. Ou seja, cerca de um quinto dos cerca de 106 mil militantes inscritos. O congresso de consagração do líder – o 38.º na história do partido – será de 7 a 9 de fevereiro, em Viana do Castelo. Será também no congresso que serão eleitos os órgãos nacionais do partido, nomeadamente o Conselho Nacional, o “parlamento” do PSD.
Quanto às divergências, são um mundo – e tenderão a transformar o debate num doloroso processo (para os militantes) de lavagem de roupa suja em direto e ao vivo em canal aberto. O debate será feito a partir das declarações públicas que os candidatos têm feito – nenhum dos três apresentou ainda moções globais.
Luís Montenegro não perderá a oportunidade para repetir pela enésima vez que o PSD obteve nas últimas legislativas um resultado péssimo, um dos piores na história do partido, sendo portanto necessário substituir Rio e refrescar a liderança – mesmo não estando esta, como é o seu caso, no Parlamento, o principal palco de ação política do PSD.
O antigo líder parlamentar de Passos vai partir daqui para afirmar que este mau resultado se deveu, precisamente, à opção de Rui Rio de cortar com o estilo de oposição pura e dura a António Costa alimentado por ele próprio, Montenegro, sob a liderança de Passos Coelho, a partir do momento em que o PS assumiu o comando do governo, apoiado na geringonça.
Por estas ou outras palavras, Montenegro definirá Rio como uma “muleta” de Costa – insistindo também no argumento de que Costa de facto não quer entendimentos com o PSD, continuando a privilegiar o diálogo com os partidos à esquerda do PS. Miguel Pinto Luz diz aliás o mesmo – e o debate poderá então, em vez de ser de todos contra todos, ser de dois contra um (Rio).
Neste ponto, a conversa poderá tornar-se agreste. Rui Rio não hesitará em acusar Montenegro e a generalidade da oposição interna à sua liderança de terem feito os possíveis, dinamitando a direção, para o PSD ter o pior resultado possível. Usará neste argumento o ensaio de candidatura à liderança que Montenegro fez em janeiro passado – processo abortado quando o Conselho Nacional do partido decidiu que o partido não deveria naquela altura partir para uma disputa pela liderança.
Quanto à proximidade com o PS, defenderá o mesmo de sempre: é líder do PSD para levar a cabo reformas estruturais e essas reformas, para serem de facto estruturais e terem duração, sobrevivendo às mudanças de governo, só se conseguem negociando com o PS. Sob a sua liderança, o PSD assinou dois acordos com António Costa, um sobre integração europeia e outro sobre descentralização.
O debate será, no final de contas, de dois passistas (Montenegro e Pinto Luz) contra um não passista – que, aliás, fez questão de levar para a sua direção pessoas que foram bastante críticas da governação de Passos, como a ex-bastonária da Ordem dos Advogados Elina Fraga (apupada pelos militantes no congresso que a elegeu para a Comissão Política Nacional, em fevereiro de 2018).
Ideologicamente, o mais centrista dos três será Rui Rio. Montenegro insere-se na atitude liberal que marcou o consulado de Passos Coelho e Miguel Pinto Luz, do ponto de vista das ideias económicas, ficará algures no meio dos dois – provavelmente marcado também pela sua militância católica (é próximo da Opus Dei).
Todos tenderão a dar o máximo no debate e por ora ninguém arrisca prognósticos sobre quem sairá vencedor da contenda. Rio ou Montenegro são conhecidos tanto no país como no partido – mas Pinto Luz só o é no partido (liderou a distrital de Lisboa do PSD e é vice-presidente na Câmara de Cascais).