Quem é o chefe do serviço paralelo de Bolsonaro?

Coronel, qual é exatamente o seu papel? Sou assessor especial do presidente da República, no gabinete privado. Lidamos com problemas semelhantes aos do presidente.

E a questão? Fazemos trabalho particular.

A inteligência é importante? Não, eu trabalho como assessor do presidente, mas sobre o assunto que você está falando.

O senhor tem alguma informação para o presidente? Não há nada disso.

Pode dar um exemplo do seu trabalho? O setor privado trabalha com os negócios do presidente. Se houver uma solicitação, nós fornecemos o conselho, a parte de conformidade. Está correto.

Conformidade? Pesquise o que é compliance.

Em primeiro lugar, a pesquisa: conformidade, segundo o dicionário Aurélio, é um neologismo que significa “a ação de cumprir uma regra, um procedimento, um regulamento, estabelecido através de um estabelecimento e a ser cumprido através daqueles que dele fazem parte”. “. O profissional de compliance é culpado por garantir o cumprimento das regras. A tarefa do coronel Marcelo Costa Câmara é muito diferente. Ocupando uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete do presidente, ele é mais do que um assessor especial. Sob as ordens de Jair Bolsonaro, conduz investigações, coleta dados e prepara arquivos que já levaram à demissão de ministros e administradores de empresas públicas, ao fim de esquemas de corrupção em funcionamento em órgãos do governo e à condenação de adversários políticos. Tudo isso de forma muito discreta, sem alarde, quase em segredo.

Pessoas próximas ao presidente descrevem o coronel Câmara como “o homem da inteligência”. “Ele só cuida disso. Todos os processos judiciais que chegam, de arquivos a relatórios de dados, vêm dele”, explica um assessor de Bolsonaro. Os quadros “conformistas” dos militares surgiram no início do governo, após uma denúncia de longa data do presidente tornada pública em meio a acusações de que ele buscava impor maior interferência em órgãos como a Polícia Federal. Bolsonaro nunca confiou nos canais oficiais de informação, especialmente na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), porque acredita que ela é formada por pintores que ainda são inabaláveis diante do governo petista. Portanto, ele estaria cercado de inimigos e o presidente precisaria de alguém em quem confia estritamente para fornecer informações verdadeiras, enviar pedidos sobre temas sensíveis e até mesmo perguntas diretas relacionadas à sua segurança pessoal. Marcelo Câmara foi selecionado para a missão. O coronel, ex-assessor parlamentar do comando do Exército, foi nomeado para o cargo em fevereiro do ano passado. Dois meses depois, ele já mostrava para que veio aqui.

Houve uma disputa de forças entre o então ministro líder do Ministério do Governo, general Carlos Alberto Santos Cruz, e Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que suspeitava que o Exército conspirava contra seu pai. , atribuídos ao ministro, circulavam, com fortes reclamações de membros do governo. Incentivado pelo filho, Bolsonaro tentou demitir o general, mas decidiu ligar para o coronel Câmara, que investigou o caso e descobriu que se tratava de uma armação contra o ministro, que ganhava a vida. Mais tarde, porém, a mesma mão que vigiava o general informou ao presidente que Santos Cruz o havia criticado em uma troca verbal com colegas das Forças Armadas em um evento em São Paulo. . O ministro foi demitido.

O governo gosta de fingir que não há nenhum escândalo de corrupção há mais de um ano, o que é bastante louvável. Uma das movimentações bem-sucedidas do coronel evitou que um caso embrionário estourasse. Foi de seu pequeno quarto que o alerta saiu. em meados do ano passado, que houve abusos nos Correios. Em setembro, as suspeitas se materializaram em uma operação da Polícia Federal que investigou as movimentações de uma organização de trabalhadores de agências por práticas de corrupção e concussões. Segundo a PF, os garçons sugeriram que os consumidores rompessem contratos com os Correios e alugassem o serviço postal para uma empresa ligada à organização criminosa. Mas, antes do início da operação, o órgão já havia sido limpo. Bolsonaro demitiu o presidente da estatal, general Juárez Cunha, além de 3 diretores. A ação que evitou o primeiro escândalo de corrupção primária dentro do governo foi atribuída à recomendação de seu agora braço direito e assessor especial.

O presidente Jair Bolsonaro tem um fascínio certo pelos serviços de inteligência. Ainda no Exército, na década de 80, o ex-capitão foi transferido para Nioaque, no Mato Grosso do Sul, onde adquiriu a função de “oficial de dados”. produzir relatórios sobre a fronteira. Durante a reunião de 22 de abril com seus ministros, Bolsonaro reclamou que não estava recebendo os dados que gostaria. Ele disse que o único serviço que funcionou foi “meu serviço pessoal”. O presidente foi questionado sobre qual seria essa fórmula de dados pessoais. Questionado sobre o assunto nesta terça-feira (26), ele discordou: “Meu serviço de dados pessoais e reservados são as redes sociais, é o meu WhatsApp, são os amigos que tenho no Brasil”. disse, o que também não tem de ser verdade (ver caixa na página 38).

Marcelo Câmara, 50, não pinta sozinho. Dois assessores colaboram para atender às demandas do presidente: um capitão das forças especiais do Exército e um ex-policial do Bope do Rio de Janeiro. No Planalto, o coronel não usa uniforme e apenas uma pequena organização sabe, ainda que muito vagamente, o que está fazendo. ” Ele é um agente de inteligência do presidente”, disse um ministro. Outro lembra de ouvir constantemente Bolsonaro, diante de um problema, apontar para a sala ao lado e dizer que ia “chamar meu povo”. . E seus colaboradores se propuseram a investigar sob a lupa cada uma das medidas adotadas por Luiz Henrique Mandetta, no campo da Saúde. Desde o início do ano, o presidente acumula dados sobre suspeitas de desvio de recursos públicos, tanto dentro da pasta quanto dentro da pasta. -fluminense, em janeiro. Antes da pandemia, o ministro na época já estava na linha de fogo. A Covid-19, revelou um assessor do presidente a VEJA, ao contrário do que se sabe, deixou Mandetta no poder.

Em abril, Bolsonaro ganhou um vídeo em seu WhatsApp de um seguidor denunciando contratos atípicos para aquisição de respiradores firmados por meio do Ministério da Saúde do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, adversário do presidente. A mensagem, como de costume, foi então transmitida ao coronel Câmara, que descobriu que era de onde vinha e que havia sintomas de crime. Pouco depois, o Ministério Público do Rio iniciou uma operação para prender empresários e funcionários do governo estadual supostamente envolvidos. Puxando esse fio, os investigadores montaram uma trama envolvendo uma gigantesca operação de corrupção. Nesta terça-feira, 26, a Polícia Federal realizou buscas na casa do governador. Uma empresa contratada para construir hospitais de caixa durante a pandemia é suspeita de pagar propina para obter contratos emergenciais. A esposa dele, Helena Witzel, é investigada como parte desse esquema.

Além de detectar possíveis fontes de corrupção, a pequena Abin do presidente investiga o histórico de outras pessoas com quem Bolsonaro mantém contato ou que são indicadas por meio do governo. No ano passado, esse controle salvou o presidente do que ele poderia ter se tornado: pelo menos, um primeiro constrangimento. Durante férias em Manaus, o rito incluiu almoço para Bolsonaro em um restaurante de empresários ligados ao tráfico de drogas. Após a intervenção do coronel Câmara, a ocasião foi cancelada. Mais recentemente, o Exército foi encarregado de verificar se membros da equipe da então secretária de Cultura, Regina Duarte, tiveram relações com partidos de esquerda no passado. Pouco depois de terminar o trabalho, a atriz pediu para deixar o governo. Trata-se, na verdade, de outra obsessão do presidente: a suspeita de ter sido sabotado por seus adversários. O coronel vasculha periodicamente as redes sociais de outras pessoas em posições de aceitação como verdadeiras para detectar “petistas infiltrados”. Ele já conhecia vários, todos foram imediatamente eliminados.

Com a mesma discrição, o coronel realiza sempre um projeto ao ar livre do Planalto. Sob Bolsonaro, Câmara foi nomeado segundo tesoureiro da Aliança pelo Brasil, o partido do presidente. O que ele está fazendo lá também é um mistério. “Não sei qual é o papel dela aqui”, admite Karina Kufa, que, além de líder do partido, é advogada particular de Jair Bolsonaro. Embora na sombra, o coronel Marcelo Câmara é figura vital no organograma do poder. Antes de terminar a entrevista em que tentou desvalorizar as suas actividades secretas, chamando-as de inegáveis ​​trabalhos de compliance, informou que um resumo das suas tarefas estava disponível no agfinisha publicado na página online da Presidência da República. Na verdade, está tudo aí. Do início da manhã ao fim do dia, ao longo da semana, ao longo do mês, o calfinishar dedica-se quase inteiramente aos “despachos internos”. Escritórios internos? “Se não está claro é porque são coisas não públicas que não vou comunicar”, disse o espião do presidente antes de agradecer e desligar.

Com reportagem de Marcela Mattos

Publicado em VEJA em 3 de junho de 2020, edição 2689

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