Os casos duplicaram durante o fim-de-semana. Portugal endurece medidas de contingência

O número de pessoas infetadas com o covid-19 mais que duplicou durante o fim de semana, passaram de 13 para 30. Surgiu o primeiro doente no Algarve, tomaram-se medidas duras e até o Presidente da República foi forçado a isolar-se.

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas (à esquerda) e a ministra da Saúde, Marta Temido, na conferência de imprensa de sábado em que afirmaram que as medidas de contingência seriam adaptadas dia a dia consoante a evolução da epidemia.

Nuno Fox/Lusa ©

Portugal regista casos de covid-19 de norte a sul, com o Algarve a indicar a primeira contaminação: uma jovem de 16 anos que viajou com a família (pais e três filhas) para Itália nas férias de Carnaval. Está internada em Lisboa, como a mãe, que aguarda os resultados das análises.

Eleva-se para 30 o número de pessoas infetadas no país, segundo o último boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS), ao fim do dia deste domingo. Os casos mais que duplicaram relativamente aos números de sexta-feira, quando estavam contabilizados 13 infetados.

Verifica-se um aumento significativo de doentes mulheres, mais do dobro em relação ao balanço deste sábado, passaram de cinco para 12. E há 18 homens.

Além do Algarve, a região centro tem uma pessoa infetada, mas a maioria dos doentes são do norte. Estão internadas 22 pessoas no Porto e oito em Lisboa, concelhos onde estão a ser instalados hospitais de campanha: nos hospitais de São João, no Porto, e de Santa Maria, em Lisboa.

São 56 os residentes que aguardam os resultados dos testes à presença do covid-19 e 447 estão sob vigilância porque estiveram em contacto com doentes.

Atualmente, são quatro as cadeias ativas de transmissão do vírus. O novo coronavírus foi importado por cinco pessoas da Itália e uma de Espanha.

A evolução epidemiológica do vírus levou à tomada de medidas restritivas mais duras, sobretudo no norte do país, onde há mais casos. É aqui que se encontra um cluster do vírus, um homem que esteve em Itália e infetou pelo menos nove pessoas em Portugal, uma das quais infetou outra. E outras 200 deste grupo estão sob vigilância.

Estão 23 casos confirmados na região norte e 19 correspondem ao mesmo foco, daí a decisão das autoridades nacionais, divulgada no final deste domingo.

Aquele cenário levou ao encerramento dos estabelecimentos escolares (públicos e privados) de Felgueiras e Lousadas, uma vez que a maioria dos casos de infeção com o covid-19 no norte são de residentes nestes dois concelhos. Também são suspensas as atividades de lazer, culturais e de utilização pública, nomeadamente em ginásios, bibliotecas, piscinas, cinemas e em espaços para eventos.

Neste domingo foi ainda decidido fechar a Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, segundo o jornal Sul Informação, para limpeza e quarentena., uma vez que é a escola frequentada pela jovem infetada. Pondera-se, ainda, o encerramento de mais três estabelecimentos de ensino nos concelhos, onde a mãe é professora e as duas irmãs estudam.

No sábado, o governo tinha decidido encerrar a Escola Básica e Secundária de Idães, em Felgueiras; na Universidade do Porto, a Faculdade de Farmácia e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, e o edifício do curso de História da Universidade do Minho.

Marcelo Rebelo de Sousa, com o primeiro-ministro, António Costa, a ministra da Cultura, Graça Fonseca , nas comemorações do centenário do Teatro Nacional São João, Porto, neste sábado, 7 de março de 2020.

© Fernando Veludo/Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa tinha visitado a Escola Básica e Secundária de Idães, razão pela qual o Presidente da República se encontra em isolamento profilático. Não apresenta sintomas da doença.

Entretanto, suspendeu a agenda por duas semanas e vai permanecer em casa sob monitorização, “apesar de não apresentar nenhum sintoma” de infeção por covid-19.

O Presidente da República teve vários encontros com vários políticos, entre os quais António Costa. O primeiro-ministro já fez saber que manterá a agenda, uma vez que tomou com Marcelo Rebelo de Sousa as precauções recomendadas pela DGS para os contactos sociais.

Neste domingo, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) suspendeu as visitas nos estabelecimentos prisionais de Paços de Ferreira, Santa Cruz do Bispo (masculino e feminino), Vale de Sousa, os instalados junto à PJ do Porto, Aveiro, Braga, Guimarães e Viana do Castelo, bem como os centros educativos de Santo António no Porto e de Vila do Conde. E, nas restantes prisões, a visita só se realiza durante a semana e limitada a um máximo de duas pessoas por recluso.

E, por indicação DGS, não é permitido aos visitantes levar bens alimentares ou outros. Com tais restrições, a DGRSP permite a realização de três chamadas telefónicas diárias para o exterior com a duração de cinco minutos cada.

Os novos reclusos irão para determinadas prisões nas diferentes regiões do país, definidas no plano de contingência da DGRSP. Estes reclusos farão a quarentena profilática de 14 dias, durante os quais são diariamente monitorizados. Foram criadas duas enfermarias de retaguarda, uma no Estabelecimento Prisional do Porto e outra no Hospital Prisional de São João de Deus, em Caxias, para o internamento de reclusos que venham a estar infetados com o covid-19.

Também as visitas a lares de idosos são desaconselhadas.

Marcelo Rebelo de Sousa, com o primeiro-ministro, António Costa, a ministra da Cultura, Graça Fonseca , nas comemorações do centenário do Teatro Nacional São João, Porto, neste sábado, 7 de março de 2020.

© Fernando Veludo/Lusa

O Centro Hospitalar de São João, no Porto, instalou um hospital de campanha “para responder em exclusividade ao covid-19”, prevendo-se que entre em funcionamento nesta segunda-feira. Esta medida faz parte do plano de contingência da unidade hospitalar, segundo disse à Lusa fonte oficial da instituição, indicando que “tem que ver com a evolução” do surto epidémico pelo novo coronavírus.

A infraestrutura será montada no perímetro do Hospital de São João e é “para responder em exclusividade ao covid-19”.

Também o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, terá um hospital de campanha, cedido pela Cruz Vermelha Portuguesa, para o caso de ser necessário isolar doentes infetados pelo novo coronavírus.

O presidente da CVP, Francisco George, disse à Lusa que a CVP acedeu a um pedido feito pela administração do Hospital de Santa Maria, para “fins de isolamento, no caso de ser necessário”, de doentes infetados pelo novo coronavírus, que causa a doença covid-19.

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