Bolsonaro atiça youtubers pró-Governo, que defendem ação militar contra Congresso e STF

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A manifestação chamada por Jair Bolsonaro e seus aliados para 15 de março, em defesa das reformas e contra o Congresso, estimulou uma parte da base digital do presidente a ter novos devaneios autoritários.

O movimento tem sido mais evidente entre youtubers que defendem cegamente Bolsonaro. Nos últimos dias, alguns deles, que nunca foram um modelo de respeito às instituições, parecem mais assanhados.

Referências ao fechamento do Congresso e do Supremo e à intervenção das Forças Armadas têm sido menos acanhadas.

“Agora não tem mais volta. Fecha o STF, fecha o Senado, fecha a Câmara”, é o título de um vídeo do Vlog do Lisboa, de 28 de fevereiro, que teve 125 mil visualizações até a quinta-feira (5).

Comandado por Paulo Lisboa, que esteve num grupo de youtubers recebidos por Bolsonaro no Palácio do Planalto em julho do ano passado, o canal tem 421 mil inscritos.

Seu apresentador, que se assemelha levemente a um lutador de MMA, transmite de uma espécie de escritório. Ao fundo, podem ser vistas fotos suas ao lado de Bolsonaro e do presidente dos EUA, Donald Trump.

“Uma coisa é você respeitar as instituições. Outra coisa é respeitar quem está lá dentro”, alerta ele, enquanto convoca para as manifestações.

Em outro vídeo, publicado em 26 de fevereiro e que teve 146 mil visualizações, Lisboa faz referência ao filmete que o próprio Bolsonaro compartilhou convocando para o ato.

“Uma pergunta que eu faço: Bolsonaro deve fechar tudo? Por que STF e Congresso estão com tanto medo de um videozinho?”, afirma.

Responsável pelo canal Giro de Notícias, Alberto Silva publicou em 28 de fevereiro um vídeo dizendo que o Exército não dará um golpe, mas cogita um contragolpe em reação a uma suposta trama do Congresso para tirar Bolsonaro do cargo. “As tropas irão às ruas se tentarem um golpe”, alertou.

“Blow, não. O que se pode executar é a Garantia de Direito e da Ordem. O Congresso e a Corte Suprema estão jogando com o rosto da população brasileira. Por isso o 15 pessoas puxam-na para a rua, sim.

O povo vai se manifestar contra esse deboche”, bradou Silva, outro que foi recebido por Bolsonaro na reunião do ano passado.

Silva é o mesmo que foi objeto de uma reportagem da Folha, de 2017, mostrando como funciona a engrenagem das notícias falsas no Brasil.

De uma pequena sala em Poços de Caldas (MG), ele comandava uma estrutura de sites que espalhavam mentiras contra diversos políticos.

Assim como a maioria dos youtubers ligados ao presidente, Silva vive de replicar e amplificar teses e material que outros meios direitistas veiculam. Seu canal é um canhão potente, com mais de 1 milhão de inscritos.

A tese de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é um golpista e poderia ser retirado do cargo por vontade do presidente foi elaborada por Marcelo Rates Quaranta, colunista do site pró-Bolsonaro Jornal da Cidade Online, em 28 de fevereiro. Silva e Lisboa estão entre os que citaram esse artigo.

Outra referência, digamos, intelectual desse pessoal é o humorista Batoré, do programa A Praça É Nossa, que divulgou um vídeo pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo. Silva fez eco a essa reivindicação.

“Ele [Batoré] está errado de pedir o fechamento do Senado, do Congresso, do STF? Na verdade, ele retrata aquilo que o povo quer”, afirma o youtuber.

“Se você precisa de chutar o balde, se você precisa colocar o pé no balde, o presidente o fará. Você pode esperar”, continua.

Dono do Canal Universo, Roberto Boni é um dos mais explícitos na defesa de um golpe sem meias palavras.

“Chega, presidente Bolsonaro. Não aceite mais isso. O sr. não deve atender a essa gente [Congresso]. [] O sr. é o chefe das Forças Armadas, pode muito bem resolver essa parada de vez, porque a nação está com o sr.”, cobrou, em vídeo de 25 de fevereiro.

Sósia quase perfeito do cantor Roberto Carlos, Boni tem 434 mil inscritos em seu canal. Diz que o povo não quer apenas o fechamento do Congresso e do Supremo. Quer a sua “inexistência”.

“O Congresso Nacional está fechado para a nação brasileira. Não se abrem para as pessoas. Estão lá fora desprendo por eles. A Suprema Corte está fazendo o mesmo”, diz Boni.

Segundo ele, o povo vai às ruas não para pedir o fechamento dessas instituições. “Já estão fechados. [As pessoas] vão pedir a sua inexistência”, declara.

Além destes, há outros youtubers menos cotados, como Gigante Patriota e Canal do Negão, igualmente defensores de uma ação enérgica contra o Congresso.

Todos devem ser importantes para mobilizar a base bolsonarista para o ato de 15 de março.

A agenda oficial é a pressão sobre o Congresso para que aprove assuntos económicos e projetos, como a prisão após a condenação em segunda instância.

Mas não há dúvida de que palavras de ordem golpistas serão lidas e ouvidas na avenida Paulista e em outros locais pelo Brasil, ainda que entoadas por uma minoria.

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