Isabel Alcario é o rosto da Resenha Semanal que elabora o Instituto Português de Relações Internacionais, mais conhecido pela sigla IPRI, e que está ligado à Universidade Nova de Lisboa. Uma ferramenta de trabalho essencial para académicos, diplomatas, governantes, jornalistas e todos os que se interessam pelas relações internacionais.
Isabel Alcario
© Pedro Rocha/Global Imagens
Em cima da secretária, entre muita papelada e alguns livros, vislumbro uma Jeune Afrique. O tema de capa da revista é o Magrebe e tanto pode ter que ver com a resenha de imprensa internacional que Isabel Alcario organiza todas as semanas como com o tema da sua tese de doutoramento. “Estou a estudar o nosso vizinho do Sul e o título pensado é Autoritarismo e Reforma Política no Norte de África: Marrocos em Perspectiva Comparada, explica a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais, mais conhecido pela sigla IPRI, que todas as semanas presta um notável serviço público ao disponibilizar uma série de artigos de análise sobre a situação do mundo. A mais recente resenha – faço parte da mailing list – traz material sobre as eleições americanas e o desafio democrata a Donald Trump, os confrontos entre hindus e muçulmanos na Índia, as legislativas em Israel, a nova fase da guerra na Síria e o caos em Idlib, também a interpretação política da epidemia do Covid-19, através de um artigo de Michael Shoebridge, na The Strategist, intitulado “Coronavirus and the death of Xi”s China Dream”.
“A Resenha Semanal compila cerca de 60 sugestões de análises aprofundadas sobre os temas mais relevantes que marcam a agenda internacional, bem como sugestões sobre temas fixos como as diferentes regiões geopolíticas, terrorismo e relações entre as grandes potências. Apresenta ainda uma secção final com cinco sugestões de leituras “Livros & Recensões”. É enviada para uma mailing list essencialmente composta por membros da diplomacia, departamentos governamentais, defesa, jornalistas e academia, bem como particulares, nacionais e estrangeiros, que manifestaram interesse em receber esta newsletter”, explica Isabel Alcario, que é licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova, tem pós-gradução em Estudos Europeus pela Universidade de Lisboa e é ainda Mestre em História das Relações Internacionais pelo ISCTE. O doutoramento está a demorar mais do que o previsto, admite esta alentejana de Évora, porque além do trabalho no IPRI, sedeado num edifício na zona da Estefânia, coração de Lisboa, “há ainda duas meninas de três e cinco anos para cuidar”. A orientar o doutoramento em Política Comparada no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa está o professor António Costa Pinto.
Enquanto entrevisto Isabel Alcario somos cumprimentados por Carlos Gaspar e Nuno Severiano Teixeira, dois académicos cujo currículo está muito ligado ao IPRI e que aproveitam para reafirmar o compromisso da instituição com a Resenha Semanal. “Este trabalho que a dra. Isabel Alcario faz aqui é de grande utilidade para o mundo universitário e não só”, sublinha Nuno Severiano Teixeira, que além de historiador foi ministro da Administração Interna e da Defesa.
Objetividade é aquilo que se exige na realização da resenha de imprensa, mas Isabel Alcario admite que, entre as muitas personalidades e instituições que costuma recomendar em termos de leitura, tem algumas preferências. “Valorizo muito a Anne Applebaum”, diz, referindo-se à antiga jornalista do Washington Post, que hoje escreve na The National Interest e no Journal of Democracy e que é autora de vários livros sobre o antigo Bloco Comunista e a União Soviética. Em termos de instituições, destaca, entre outras, o Brookings, o Chattam House, o IFRI, o Elcano e o Institute Montaigne.
Além da mailing list é possível também aceder ao site do IPRI e consultar o arquivo de resenhas, sendo que todas as semanas há cerca de 400 leitores, entre portugueses e estrangeiros.
“A Resenha Semanal é um trabalho extremamente gratificante na medida em que, pelo retorno que recebemos dos leitores do IPRI, é patente que não só representa um meio para se informarem e aprofundarem os temas que marcam a agenda internacional e que mais lhes interessam, seja por motivos profissionais ou pessoais, como tem sido frequentemente, para muitos, um ponto de partida para outros trabalhos, na imprensa ou na academia. É muito compensador e motivante saber que tem impacto, é reconhecido e contribui para a disseminação do conhecimento na sociedade, um dos objetivos do IPRI-NOVA. Permite-me, ao mesmo tempo, estar em constante aprendizagem e encoraja-me a procurar sistematicamente as melhores fontes e autores que nos permitam conhecer os diversos ângulos dos temas em análise”, afirma a investigadora.