Berço do naturismo, Alemanha vê declínio da prática

Lutando por atrair os jovens, a associação vê que os números de membros sejam reduzidos à metade, em 30 anos

O engenheiro eletricista Christian Utechet, hoje com 59 anos, tinha 30 quando foi convidado quando foi convidado por vizinhos na Berlin Ocidental a passar o domingo de Páscoa em um clube nos arredores da cidade.

À beira de um lago, famílias aproveitavam o sol daquele começo de primavera para recuperar algum bronzeado ou jogar vôlei de praia ou ping – pong. Todos estavam nus – era a primeira experiencia de Utchet e sua mulher e de sua mulher em um clube naturista.

A cena poderia se repetir nos dias atuais, mas com uma mudança chave: o desfalque no numero de figurantes.

A Freikörperkultur (Cultura do Corpo Livre, conhecida pela sigla em alemão FKK), vem perdendo adeptos há anos na Alemanha, uns dos países que o movimento mais se desenvolveu.

Ali, a associação nacional de naturistas viu sua filiação cair pela metade desde a década de 1980; conta hoje com cerca de 32 mil pessoas registradas. A têndencia se repete a nível mundial, segundo a federação que reúne 41 associações nacionais.

Presidente dos diretórios das regiões de Berlim e Brandemburgo (no nordeste do país) desde 2016, Utechet diz ter conseguido manter o numero de membros na casa dos 3.000, mas reconhece a dificuldade de rejuvenescer o movimento: os praticantes de carteirinha tem em média 50 anos.

“Há um buraco na faixa de 16 a 30 anos” afirma. “O problema são os ideais de beleza difundidos pela televisão e pelas redes sociais, esta perfeição do corpo fabricada com photoshop. Os jovens veem isso e não querem mais tirar as roupas na frente de desconhecidos.”

O puritanismo é geralmente mandado às favas, diz Utecht, quando os casais tem filhos e se lembram das atividades oferecidas nos clubes de nudismo e da atmosfera “segura e acolhedora” encontrada ali.

Outro obstáculo representado pelas redes sociais é sua politica de publicação. Como promover online um espaço em que se circula sem roupa se por vezes até nus dorsais ou pouco nítidos são derrubados das plataformas?

A solução segundo o engenheiro,  é abrir o clube a vizinhos e curiosos para mercado de pulgas primaveris, feiras de inverno,  festivais para crianças. O publico é acolhido nestas ocasiões por anfitriões vestidos. “O Melhor método é o boca a boca”, diz ele.

Também jogando contra a expansão dos filiados, há o medo da exposição. O coquetel câmeras de celular de alta definição e redes sociais afujenta muitos que, em outras circunstâncias experimentariam a prática.

Além disso ventos que sopram de fora da Alemanha tornam o campo mais hostil à disseminação do naturismo. Por causa de turistas e imigrantes mais tradicionalistas, os perímetros reservados a visitantes pelados em praias, lagos e parques tem diminuído quando não desaparecido por completo. “Temos sócios franceses, italianos e belgas, além de um com raízes africanas – mas só um”,  contabiliza Utecht. Mas os não europeus de fato não se sentem a vontade.”

Presidente da federação internacional, a austríaca Sieglinde Ivo faz coro: “Os imigrantes não consegue lidar com a nudez, o que complica a prática em praias livres, não exclusivas. Por isso, acho que os naturistas vão voltar aos poucos para clubes e ambientes restritos.”

Além de presidir a associação da região em que mora, Utecht gerencia um clube para famílias nudistas ao norte de Berlim. Ali casais (com ou sem filhos) pagam € 400 (R$ 1777) para ter acesso a um lago com topogã e trampolim, além de esportes ao ar livre – os solteiros desembolsam € 225 (R$ 999).

Na temporada de frio, a turma migra para modalidades e instalações internas: badminton, ioga, ginastica, vôlei, sauna e piscina.

“Temos médicos, advogados, políticos e faxineiros entre os associados. Todos se chamam pelo prenome. Não existe aqui “Sie” (pronome formal em alemão, de uso equivalente a Senhor(a) em português)” diz o engenheiro.

A prática do nudismo na Europa remonta à idade média, mas a versão moderna do movimento se consolidou a partir do século 19, com a criação dos primeiros clubes. Além da Alemanha, o naturismo ganhou simpatizantes rapidamente na França, Suíça e Áustria.

Foi proibido no Terceiro Reich (1933 – 1945), mas liberado após a guerra, ganhando impulso sobretudo na então Alemanha Oriental, onde as restrições de circulação faziam das escapadelas para a beira do Báltico um respiro bastante ansiado.

É essa sensação de liberdade e de distanciamento momentâneo das aflições da cidade que ainda hoje os adeptos destacam como o maior atrativo.

“Gosto de como a gentileza, a tolerância e a proteção da natureza e de todas as coisas vivas são colocadas em primeiro plano na FKK” afirma Ivo.

Para Utecht 30 anos depois daquela Páscoa (de) descoberta, o apreço pelo nudismo é mais prosaico. “A melhor coisa é não ter que sentar ou andar com o calção molhado depois de nadar.”

Nota do editor: A British Naturism viu um grande aumento de membros no Reino Unido, considerado um dos maiores dos últimos 15 anos, o site FarawayFurniture.com previu que as férias naturistas serão uma tendência de viagem que deve se estender ao longo de 2020, com uma enorme média de 543.000 pesquisas mensais feitas globalmente no Google, na Europa há muitos adéptos do naturismo que não estão filiado a nenhuma entidade, portanto não acreditamos em declínio no numero de praticantes.

Por Lucas Neves, editor de N

Equipe OS NATURISTAS

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